Coletes amarelos à portuguesa (crónica de António José Rodrigues)

Crónica Maldita - Opinião de António José Rodrigues

Na minha página da rede social Facebook partilhei o tema dos coletes amarelos, e perguntava: onde estavam em Portugal os promotores da manifestação de 14 de Dezembro quando então cortaram feriados, subsídios de férias e natal para pagar as dívidas dos banqueiros?

Perante o movimento dos coletes amarelos em Portugal, referi que o mesmo foi copiado de França, onde se protestava contra o aumento generalizado de impostos lançado pelo presidente Macron, que sacrificava a classe média e baixa, em vez da prevista taxa sobre as aplicações financeiras das grandes empresas, tal como aconteceu em Portugal durante a coligação Passos/Portas.

Escrevi então que foi pena que este movimento dos coletes em Portugal não tenha tomado esta atitude quando o governo de Passos e Portas enveredou pelo mesmo caminho do actual presidente francês. Na verdade, o movimento francês visa proteger as classes baixas e médias e o actual governo português está a fazer o inverso: ou seja, tem vindo a repor os feriados e a eliminar os cortes praticados pela dupla Passos/Portas.

Alguns amigos e amigas responderam ao meu comentário dizendo que a retoma em Portugal é uma falácia, pois o país continua endividado e as pessoas e empresas sobrecarregadas com mais impostos e taxas. Contrapuseram também que em Portugal as coisas continuam mal, dizendo: basta reflectir sobre as greves dos professores, dos técnicos de diagnóstico, dos funcionários judiciais, dos médicos, dos polícias, dos guardas prisionais, dos bombeiros, etc.

Acrescentaram os meus amigos e amigas que o povo francês é muito mais esclarecido do que os portugueses. Apesar de tudo, no tempo da troika, fomos todos prejudicados, com excepção dos que o nunca o são, nem na altura, nem agora, nomeadamente políticos, banqueiros e grandes empresas. Neste momento o que se passa é que foi prometido o que não era possível cumprir, repuseram-se direitos a uns e a outros não, e afinal de contas o dinheiro continua a ir para onde não deve, isto é, parcerias com privados, bancos, dívida e grandes grupos.

A obsessão pelo défice continua, medidas eficazes contra a corrupção não existem e todos os dias saem notícias de mais gente que rouba. O estado cada vez paga mais tarde. A classe média está a ficar sufocada de impostos, taxas e taxinhas. As expectativas criadas estão a sair completamente goradas e os coletes amarelos são ignorados porque não estão debaixo do chapéu da CGTP.

Respondi eu que me parece que os e as oponentes ao meu pensamento apenas terão razão no que respeita à corrupção entre alguns políticos, banqueiros, grandes empresários, parcerias publico-privadas, etc. Quanto ao sufoco da classe média com impostos e taxas, permito-me discordar, pois não será bem assim.

A classe média recuperou rendimentos perdidos e o desemprego diminuiu. Logo o seu salário ilíquido aumentou, e daí os mesmos impostos e taxas, com as mesmas percentagens do tempo da troika e da parelha Passos/Portas a renderem mais receita para o Estado, mas o rendimento líquido dos trabalhadores também melhorou.

Contrapôs uma amiga: “Não, meu amigo. A realidade não é essa! Se assim fosse, por que razão haveria tanta contestação de diferentes sectores? Mas a história contar-se-á um dia. É preciso dar tempo ao tempo”. Para mim, continuo a pensar que a análise que faço da situação é realista, mas respeito as posições dos opositores. Em democracia é assim, cada um retira as suas ilações.

VIAAntónio José Rodrigues
COMPARTILHAR