
O meu Fundamental comemora hoje 30 anos de existência. Com total franqueza, nunca me passou pela cabeça que conseguisse aguentar tanto tempo a fazer o que quer que fosse nesta vida, muito menos um jornal. Tem sido uma aventura equiparada ao mais radical que vos possa passar pela cabeça. Três décadas depois ganhei um selo na testa que me vai acompanhar para o resto da vida: sou o Nuno, ou o Cláudio, ou ambos; mas sempre o tal do Jornal Fundamental.
Começo por vos dizer, caros amigos, que trabalho há 30 anos sem salário. Ai, não é possível? Então vejam só: não ganho um cêntimo diretamente pelo jornalismo que faço. Posso até passar um mês inteirinho a fazer grandes noticias, 12 ou 14 horas por dia, que no final do mês a minha remuneração em função do jornalismo é igual a zero. Para viver desta aventura o meu jornal tem de estar associado a uma empresa, também minha, que desenvolve uma atividade paralela, obviamente relacionada com o jornal: a de prestar um serviço publicitário aos nossos, felizmente, muitos e fiéis patrocinadores.
Quero dizer: só há Jornal Fundamental há 30 anos porque desde há 3 décadas também existem empresas, empresários e instituições que acreditam neste projecto; que sentem a sua força e a envolvência que tem com a sociedade local e regional. Sem patrocinadores e anunciantes não haveria Fundamental, porque a verdade é esta: há 30 anos que este vosso jornal oferece informação. Nunca cobrámos por um jornal que fosse, e nunca cobrámos pela leitura dos nossos conteúdos online. Ou seja, eu trabalho de graça no jornalismo há 30 anos e ainda ofereço o produto do meu trabalho. Tudo ao contrário do que os meus pais me ensinaram.
E depois vem aquela parte do jornal que dantes batia a torto e a direito nos presidentes de câmara e que agora está vendido ao poder autárquico, balbuciam alguns. Nesta vida, a malta tem sempre que dizer alguma coisa, mas sobretudo faz questão de evidenciar o pouco alcance da sua massa cinzenta. Vamos lá ver se percebem de uma vez por todas: no passado, o Fundamental tinha uma linha editorial agressiva porque lidava diariamente com autarcas corruptos e pouco recomendáveis, que se apropriavam de dinheiro “por fora” à boleia dos cargos públicos que detinham e do poder que tais cargos lhes conferiam.
Actualmente, acredito piamente que essa geração de autarcas ou está a caminho ou já descansa em paz. Com toda a franqueza, também me cansei dessa linha editorial, de dezenas de idas a tribunal e de milhares e milhares de gastos, com os quais alguns dos basbaques que hoje levantam a voz para criticar jamais se preocuparam. Foram muitos os verões que passei nas praias da Meirinha enquanto tais génios andavam de rabo tremido a passear pelos quatro cantos. Se querem um jornal que bata a torto e a direito, façam-no vocês, não tenham medo! É feio viver na expectativa de que sejam os outros a assumir aquilo que vocês gostariam de fazer mas, em boa verdade, não conseguem. Porque não sabem escrever e também porque se borram de medo de… de tudo.
Hoje o Fundamental tem uma plataforma online fantástica, de muito fácil leitura e navegação intuitiva, sem pop-ups e outras porcarias que só atrapalham a leitura. Temos um Canal de conteúdos filmados que é cada vez mais um sucesso. Temos milhares, muitos milhares de leitores; e ao contrário dos tempos do jornal em papel, quando então nos púnhamos a adivinhar ou a supor que tínhamos (embora tivéssemos a perfeita noção de que os tínhamos…), hoje temos mesmo muitos milhares de leitores que nos seguem nas diversas plataformas digitais, porque hoje essa quantização é feita pela tecnologia.
Portanto, valeu a pena! Chegar aos 52 e dizer que se tem um jornal há 30 não deixa de ser de uma estranheza atroz, mas pelo menos hoje já vou à praia da Comporta, janto com a minha esposa no Retiro Sadino acompanhando com um Reserva da Quinta da Barrosinha. Mas a luta continua a ser diária, permanente, muito longe do conforto de quem o tem assegurado ao fim do mês e a dobrar duas vezes por ano. Por aqui só é possível com muito amor à causa… e algum talento em atividades complementares que tornam possível a existência deste vosso Jornal Fundamental.
Obrigado por terem seguido e acreditado no Fundamental ao longo destes 30 anos. Se continuarmos juntos, então estamos prontos para caminhar, quem sabe, por mais outras três décadas. Tal como já partilhei convosco, caros amigos, como prenda dos 30 anos o Fundamental vai ganhar brevemente uma nova sede, novo estúdio e nova redação. Um espaço único, exclusivo, caracterizado pela modernidade tecnológica e ao mesmo tempo pela comunhão com a natureza, onde vai imperar o desígnio da auto-sustentabilidade energética. O projecto ganhará forma e tornar-se-á uma realidade no decurso dos próximos meses. A caminho dos 40!
Nicolau aborda tema “saúde” no Concelho – Regresso da rúbrica “Alenquer e a Região em Perspectiva”
Esta é a segunda edição da rúbrica “Alenquer e a Região em Perspectiva”, assinada mensalmente por João Miguel Nicolau. Trata-se de um espaço de opinião e comentário que é publicado aqui no Fundamental Canal mensalmente, sempre na última sexta-feira de cada mês.