Meia dúzia de candidatos em Alenquer e no fim… ganha Folgado (Opinião de Nuno Cláudio)

Opinião de Nuno Cláudio (Junho de 2021)

É a primeira vez que o Concelho de Alenquer tem seis candidatos a concorrer à presidência da câmara. Uma prova inequívoca de que a democracia está viva e a garantia de que o debate será potencialmente rico em contributos e discussão de ideias. Esta meia dúzia de concorrentes poderá também fazer crescer a expetativa em relação ao resultado final, em concreto no que diz respeito à composição dos 7 vereadores que formam o elenco camarário.

Acompanho eleições autárquicas em Alenquer desde 1989 no contexto da minha profissão, sendo essa uma experiência contínua que me leva a formular a convicção de que, uma vez mais, o Partido Socialista vencerá as autárquicas deste ano, mantendo os quatro vereadores que tem no executivo ou mesmo reforçando a maioria absoluta com a eleição do quinto representante. Esta convicção não surge “do nada”, e passo a expor os meus argumentos, contextualizando-os em cada uma das seis candidaturas.

CDU (Ernesto Ferreira). Em 2017 o candidato e a Coligação obtiveram 14,07 por cento dos votos. Exatamente 2470 votos, que permitiram a eleição de Ernesto Ferreira para o executivo. O candidato é um homem honesto e vertical, mas a CDU de 2021 em Alenquer carece de renovação. Não aproveita as novas tecnologias para comunicar e dificilmente será atrativa para as novas gerações. A cada quatro anos há um conjunto de votantes “históricos” que partem, mas duvido que a regeneração da massa eleitora da CDU acompanhe esta impiedosa lei da vida. Seria positivo (na perspetiva da Coligação) se Ernesto conseguisse chegar aos mesmos 2470 votos de 2017, mas provavelmente a CDU registará uma quebra. Ainda assim, deverá eleger o seu representante.

PSD (Nuno Miguel Henriques). O PSD de Alenquer atravessa um dos momentos mais difíceis da sua história local, e para tal muito contribuiu o desaparecimento do saudoso Vitor Ronca, que era o verdadeiro motor da Comissão Política Concelhia social democrata. O partido não tem estrutura local eleita e uma vez mais teve de recorrer a um candidato de fora do concelho, a exemplo do que aconteceu em 2001 com Luís Nandim de Carvalho. Nas últimas eleições o PSD coligado com o CDS obteve 22 por cento dos votos (3882 votos). Resta saber quanto vale este PSD de 2021 a concorrer sem a “muleta” do partido Popular. Os dois vereadores de 2017 dificilmente serão um cenário repetível, e Nuno Henriques deverá sentar-se sozinho na bancada social democrata.

CDS (Mário Amaro). A verdade é que os 3882 votos de 2017 pertenceram a uma Coligação, com um espírito muito próprio que já vinha sendo trabalhado e enraizado desde inicio do século. O fim deste “casamento” será fatal para ambos os partidos. O CDS apresenta um jovem candidato de 20 anos, inteligente e com enorme potencial, mas o estigma da idade será decisivo para as contas finais deste novo PP coligado com partidos de menor expressão. As pessoas “acham piada ao miúdo”, reconhecem-lhe coragem e atrevimento, mas na hora de votar… estamos num concelho conservador. Não deverá chegar para a eleição de um representante.

Carlos Sequeira (CHEGA). Foi o último candidato a assumir participar nesta corrida e é mais um contributo para o debate nestas eleições. O CHEGA obteve cerca de 15 por cento dos votos aquando da eleição para o Presidente da República, e este valor acaba por ser decisivo para que, legitimamente, os candidatos por este partido às autárquicas alimentem a ideia de que os mesmos serão possíveis de repetir em Outubro. Francamente, não me parece que assim seja. Uma coisa é André Ventura a concorrer em contexto de presidenciais; outra, bem diferente, é o CHEGA a concorrer à presidência da Câmara de Alenquer, este tal concelho de eleitorado conservador. Roubará votos à direita (ao PSD e ao CDS), mas dificilmente conseguirá a eleição de um representante.

Sónia Pedro (BE). O Bloco obteve 903 votos em 2017 (5,15 por cento), o que não chegou para que Mário Luís Correia fosse eleito para a vereação. Sónia Pedro promete contribuir para o debate e almeja um crescimento deste valor, mas o Bloco não tem no concelho uma expressão que permita à candidata alcançar números que conduzam a uma presença no executivo. O BE irá beneficiar em Alenquer da desatualização da CDU e poderá também ser alternativa para alguns descontentes com o partido maioritário embora estes, a meu ver, sejam residuais.

Pedro Folgado (PS). O Partido Socialista tem em Alenquer uma base eleitoral que oscila entre os 9 mil e os 10 mil votantes, sendo que este valor mantem-se relativamente estável desde há vários atos eleitorais. A meu ver seria necessário que no atual mandato tivesse ocorrido um acontecimento verdadeiramente escabroso, marcante e mediático pela negativa para que esta base eleitoral socialista retirasse o tapete a Pedro Folgado. O mandato foi claramente marcado pela Covid-19 (em Alenquer como no Mundo inteiro), e neste particular parece-me que é reconhecido de fio a pavio que o executivo geriu de forma positiva as expetativas dos alenquerenses na ação da autarquia. Depois há dois grandes temas que poderiam beliscar a base socialista: concessão da água e baixa taxa de execução de obras. Em relação a este último basta algumas “arruadas” em contacto direto com as populações para perceber que se trata de um tema que “não mexe” com um eleitorado sobretudo preocupado com a economia e os efeitos da pandemia. Já o assunto “água” diz mais às pessoas, mas a tal base socialista de 9 a 10 milhares já conhece o tema desde há anos e não penalizou o atual executivo em 2017, provavelmente por considerar que nenhum dos eleitos de agora foi obreiro daquele polémico contrato de concessão. Dão a entender que até podem reconhecer o erro, mas que continuarão fiéis como em 2013 e 2017.

Neste cenário, não será difícil antever que o PS vai manter a maioria absoluta, podendo até reforçar a sua presença no executivo a partir do Método de Hondt “às custas” da divisão de votos à direita. Independentemente de tudo, este é apenas um exercício de opinião de alguém que “anda nisto” há três décadas no Concelho de Alenquer. Caso esteja redondamente enganado, aqui regressarei para o reconhecer no próximo mês de Outubro. Independentemente de tudo o resto, a participação destes 6 candidatos nas eleições autárquicas só pode ser visto como uma vitória antecipada para a democracia em Alenquer. Quem for vitorioso sairá absolutamente reforçado e legitimado, porquanto alternativas não faltam para todos os gostos e ideologias.


Mário Amaro em entrevista: “Acredito que não teremos maioria absoluta do PS em Alenquer”

É o mais jovem concorrente a presidente da câmara que Alenquer já teve desde que há eleições livres. Mário Amaro lidera a Coligação Fazer Cumprir Alenquer e é o candidato que se segue no ciclo de entrevistas que o Fundamental Canal está a levar a cabo aos aspirantes à presidência da Câmara de Alenquer no Museu do Vinho situado na Vila Presépio. Veja a entrevista aqui.

VIANuno Cláudio
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