Este é um mero exercício de opinião baseado em quase 30 anos de acompanhamento jornalístico das incidências autárquicas na região e em particular no Concelho de Azambuja, de onde sou natural e onde continuo a residir em espírito. Daqui a pouco mais de dois meses vai haver eleições autárquicas e o PS perfila-se como vencedor – direi natural – da disputa nas urnas no que a este município diz respeito.
Esta parece, de resto, tratar-se de uma previsão normal e espectável atendendo aos resultados que se verificaram nas autárquicas desde há mais de três décadas neste concelho, mas existe no meu ponto de vista uma certa “lógica” que sustenta esta previsão.
Mara Oliveira e a CDU. A Coligação liderada pelo Partido Comunista perdeu uma excelente oportunidade de recuperar a presidência da autarquia em 1997, quando então António José Rodrigues capitalizou a atenção de uma população descontente e muito farta de João Benavente. Mesmo assim faltaram pouco mais de uma centena de votos para o conceituado advogado de Manique do Intendente alcançar a vitória. Desde então nem António Nobre nem David Mendes (nem o próprio Rodrigues em 2001) andaram sequer perto de ao menos eleger três representantes no executivo. Mara Oliveira terá o objetivo de conseguir manter o eleitorado fiel à CDU. A sua eleição deverá ser concretizada, mas dificilmente passará deste patamar.
Inês Louro e o CHEGA. O partido fundado por André Ventura obteve cerca de 15 por cento na eleição para a presidência da república em Azambuja, e tal “score” leva os candidatos do CHEGA a acreditar que repetirão o feito no contexto das autárquicas. Não me parece que tal vá suceder igualmente neste concelho, onde a candidata à câmara virou costas ao PS há “meia dúzia de dias”. Nos dois últimos mandatos foi presidente da Freguesia de Azambuja (pelo PS) mas venceu ambas as eleições com alguma aflição, protagonizando mesmo a pior margem de vitória alcançada por candidatos vencedores pelo Partido Socialista no Concelho de Azambuja. Esta será uma aventura a termo certo, com fim à vista para finais de Setembro.
Rui Corça e o PSD. O candidato repete a eleição e na melhor das hipóteses repetirá também o resultado obtido há quatro anos, restando neste contexto perceber qual o nível do “estrago” que o CHEGA provocará na divisão de votos à direita. O PSD de Azambuja continua a ter o cunho muito pessoal e o carimbo de António Jorge Lopes, com tudo o que de eloquente tal significa para as aspirações dos social democratas neste concelho. Rui Corça, por sua vez, não “toca” no coração do povo; antes pelo contrário, do candidato sobressai uma certa imagem de distância e até de alguma arrogância. Justo ou injusto, esse epíteto é determinante para mais um resultado do PSD na linha do que tem sucedido nos últimos… mais de 30 anos em Azambuja.
Silvino Lúcio e o PS. Quem ganha eleições em Azambuja há mais de três décadas é o Partido Socialista e só num contexto de enorme adversidade é que essa tendência seria colocada em causa, na minha opinião. Relembro que entre 1993 e 1997 João Benavente foi exposto a todo o concelho por um conjunto de práticas desastrosas, mesmo desonestas em certos casos, a somar a uma presidência que pouco ou nada acrescentava à qualidade de vida dos concelhios, mas ainda assim conseguiu garantir a vitória para o PS neste município. Regressando a 2021, basta analisar os últimos quatro anos: câmara financeiramente estável; obras a decorrer sem espetacularidade mas com a normalidade necessária e suficiente; atuação aceitável, até positiva, perante a adversidade da pandemia, o que conduziu ao reforço das relações com coletividades, instituições e famílias. Calcanhares de Aquiles? O aterro da Triaza e as famosas fotovoltaicas, mas bastarão algumas “arruadas” pelos diversos locais do concelho para perceber que tais assuntos, de facto incómodos, estão longe de serem potenciais “tiros” decisivos nas aspirações dos socialistas. O candidato Silvino tem uma imagem forte e nem sempre consensual, mas também tem mais de 30 anos de contacto direto com a realidade do concelho: coletividades, associações, instituições, problemas do dia a dia das pessoas. Mesmo controverso, prevejo que tal histórico faça toda a diferença.
Neste cenário não será difícil antever que o PS vai obter a maioria na Câmara, podendo manter a sua presença de 4 eleitos no executivo. A divisão de votos à direita poderá ser uma realidade mas não deverá ser suficiente para “roubar” um vereador ao PSD, que deverá manter os dois eleitos.
Independentemente de tudo, este é apenas um exercício de opinião de alguém que “anda nisto” há três décadas no Concelho de Azambuja. Caso esteja redondamente enganado, aqui regressarei para o reconhecer no próximo mês de Outubro.