O João Marcelino nasceu numa família modesta, em Arrifana, ajudou o seu pai na taberna e na venda de peixe na freguesia, primeiro transportando o peixe num burro e depois na bicicleta. Do seu “curriculum”, destaco os seguintes feitos:
Em 1952, correndo pelo Desportivo de Arroios, ficou em 13º lugar na Volta a Portugal em bicicleta e em 5º lugar no prémio da Montanha da mesma competição;
Em 1955, já com camisola do Benfica, ganhou a prova Lisboa-Santarém-Lisboa, ficou em 2º lugar no Campeonato Regional e em 6º lugar na Volta a Portugal;
Em 1956 ficou classificado em 3º lugar na célebre Volta a Portugal, apenas atrás dos grandes vultos do ciclismo da altura, Alves Barbosa e Ribeiro da Silva, tendo feito a volta montado numa bicicleta oferecida pela população da freguesia;
Na época de 1957/58 foi campeão nacional de fundo em bicicleta.
Das suas proezas consta que, no início de carreira, participou na prova designada de “três voltas ao Vale da Pinta”, com passagem por Pontével e Cartaxo, tendo ganho as duas primeiras; na terceira volta, quando toda a gente aguardava que fosse também vencedor, ficou-se deitado numa vinha a comer uvas, para matar a fome.
De outra vez, tinha o João 22 anos, foi correr o circuito de Asseiceira. Durante a prova, montado numa bicicleta velha e ferrugenta, foi resistindo a todos os ataques dos ciclistas mais “vivaços” da região, até que chegou perto da meta em terceiro lugar, tendo ouvido um dos adversários que ia na frente dizer para o outro:
— Este vai cheio de “peneiras”. Se calhar está a pensar ganhar. Com esta bicicleta, se arranca parte-se toda.
Ouvindo o remoque, o João “sprintou” de tal maneira e com tal gana e coragem que os outros, surpreendidos, não puderam fazer-lhe sombra e ele ganhou, dizendo:
— O último a rir é o que ri melhor, e vocês não querem crer, rapazes.