A falta de tino e o umbiguismo

Opinião de António José Matos

"Não percebem - esta gente não percebe - que a versão “Querido Líder” começa e acaba na Coreia do Norte. O “Querido Líder” mais uma vez diz-se afastado, que já não será ele para as próximas autárquicas, mas todos sabemos que a dissimulação e manhosice estão lá e todos os que lá ficam ou voltam acabam conspurcados"

Na passada sexta-feira, por volta das vinte e duas horas, saí de casa para apanhar um pouco de ar fresco e encontrei um amigo. Ficámos à conversa, durante a qual ele disse uma frase que me deixou a pensar; “esta gente que nos governa tem muita falta de tino e só pensam neles próprios…”
É a pura da verdade. Uns acham-se muito bons, muito inteligentes, quase ungidos por Deus para desempenhar funções governativas, seja ao nível autárquico ou do governo da República, olhando para os outros de cima para baixo, com atitudes e comportamentos de muita sobranceria, seja para com os seus pares, seja para com os adversários e inclusivamente para com os eleitores, achando que o povo ao não os eleger está a cometer erros constantes. Não percebem – esta gente não percebe – que a versão “Querido Líder” começa e acaba na Coreia do Norte. O “Querido Líder” mais uma vez diz-se afastado, que já não será ele para as próximas autárquicas, mas todos sabemos que a dissimulação e manhosice estão lá e todos os que lá ficam ou voltam acabam conspurcados. Há coisas e gente que nunca mudam; como tal, continua a faltar àquele sector um factor fundamental: tino…
Outros há que transformaram a ideologia num dogma, demonstrando uma enorme falta de tino… estão aprisionados a uma ideologia que não serviu nem serve a nenhuma nação.
Depois existe ainda outra classe, para os quais a melhor das razões é tão simplesmente… porque sempre foram eles! Um é porque tem saudades de voltar a ser, outros é porque agora é a vez deles, outro ainda porque se o um diz que vai, também ele terá que ir ou apenas porque sim… vão mas não ficam o tempo todo. Ao cabo de um periodo saem deixando a vaga para os imediatos… enfim, pessoas demonstrando igualmente alguma falta de tino… Para além de continuarem a querer o lugar ou voltar a ter o lugar, não disseram mais… quem não sabe o que quer, ou para onde quer ir, não chega a lado nenhum por muito bom ou competente que possa ser.
Meus senhores, no lugar de pensarem apenas em vós, em quem ocupa o lugar A ou B, deviam perceber que há assuntos muito importantes… já decorre o programa de financiamento comunitário 2014 – 2020, é uma oportunidade que não se pode perder, ou melhor, continuar a perder… pois tanto há para fazer. Deviam perceber que existem temas sempre atuais como a modernização das autarquias, o papel e o lugar do território, que os PDM‘s actualizados são uma forte componente para o desenvolvimento e competitividade dos municípios e assim poderem potenciar e alargar a oferta de emprego. Que o planeamento e recuperação do património habitacional são muito importantes. A saúde. A educação, que actualmente tem de ser vista como uma indústria, que é quem mais poderá fazer pelas aldeias, vilas e cidades: a indústria do conhecimento. O ambiente e a biodiversidade. Assim como nunca poderão ficar esquecidas as diferenças culturais dos povos, a identidade de cada povo a sua crença, a sua génese, os seus saberes, o seu Eu não lhes pode ser negado. Cada território tem apetências e possibilidades de desenvolvimento muito intrínseco, muito próprio dos quais nunca nos poderemos esquecer, assim como tem de estar sempre muito presente na cabeça de cada político e atitudes a tomar: a responsabilidade social.
Os recursos do Estado são obtidos de forma coerciva; portanto, quando parte desses recursos que foram retirados ao nosso esforço de trabalho, os que não são absorvidos pela máquina do Estado, são devolvidos às pessoas, esse é dinheiro que já era do povo. Nenhum político faz qualquer tipo de favor por devolver uma parte muito escassa de tudo o que foi retirado a quem trabalha.
Tenham todos mais tino, que isto não é nenhum jogo nem os partidos são clubes. É a vida das pessoas e o seu futuro que está em causa. Chega de umbiguismo…

VIAAntónio José Matos
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