Criar valor deve ser o desejo e ambição de qualquer empresa. Criar valor para os acionistas ou sócios, para os empregados, para os clientes e inclusive para os fornecedores. Não foi sempre assim e há quem ainda não tenha percebido que o mundo está em constante mudança. Há quem ainda veja tudo numa espécie de luta de classes, onde os empregados só ganham se conseguirem retirar aos empresários, onde os empresários só ganham se conseguirem “aproveitar-se” dos trabalhadores, isto nas forças internas. Nas forças externas também acham que só ganham se jogarem contra os clientes, bancos, fornecedores…mas este é um jogo que na melhor das hipóteses só poderá dar um resultado nulo. Nada vive ou sobrevive durante muito tempo numa lógica do contra, na lógica de uns contra os outros. Esta luta onde todos tentam maximizar as suas pretensões, onde pensam que só ganham se retirarem aos outros, não pode continuar, não consegue criar qualquer tipo de valor.
Atualmente temos todos de perceber que tem de haver inteligência onde antes havia ganância, seja de que parte for. Em qualquer organização o mais importante são as pessoas, nada se faz sem pessoas e sem ser para pessoas, e daí todos serem tão importantes.
Uma empresa que se queira manter de forma duradoura tem de ser capaz de criar valor. Tem de perceber e aceitar um duplo desafio: oferecer sempre mais e melhor, tentando exceder as expectativas dos clientes e dos empregados, sem aumentar os seus custos, demonstrando assim que a “ganância” foi substituída por inteligência.
A satisfação do cliente não pode ser o resultado final. Antes, tem de ser o ponto de partida da estratégia de qualquer empresa. Os clientes têm de ser segmentados em função das suas necessidades; o que serve para uns poderá não servir a todos. A empresa tem de compreender quais são os critérios determinantes para que a qualidade seja percecionada pelo cliente; levar o cliente a participar na produção do produto ou serviço…
Na política não é diferente. As ideologias por si próprias já não chegam. Não se pode olhar apenas para o todo; o individuo é muito importante em todas as suas facetas, gostos, necessidades, ambições…
Os políticos têm de perceber que o dinheiro que gerem resulta da criação de valor, do esforço individual e coletivo de todos. Os políticos têm de redistribuir esse valor, para melhorar a qualidade de vida de todos. Não se pode esgotar esse esforço de todos apenas, ou quase apenas, na máquina do Estado. Os políticos, inclusivamente os de proximidade, têm de perceber que não podem continuar a navegar à vista. Tem de haver estratégia, inteligência e coragem. Tem de se saber dizer “não” quando é de dizer “não” e dizer “sim” quando é de dizer “sim”, com todas as consequências que isso possa implicar.
Um negócio só se faz se for bom para todas as partes. Tanto nas empresas como na política todas as partes têm sentir, têm de percecionar que lhes foi transmitido algum valor. Os políticos têm de perceber que são parceiros, que os funcionários são parceiros, que os fornecedores são parceiros, que o comum cidadão é um parceiro, que as colectividades, que as associações são parceiros. Os municípios substituem-se ao Estado em muitas das suas atribuições, sem nada receber em troca, mas também as coletividades e as associações fazem muito daquilo que seriam as competências dos municípios. Fazem-no utilizando recursos tremendamente escassos, a um custo muito inferior desenvolvem atividades com um benefício e alcance muito superior ao que os municípios fariam no desenvolvimento de atividades semelhantes.
Se os municípios tiverem numa postura de desinteresse e do contra, o resultado só poderá ser nulo ou negativo, não ficando esses políticos com grandes hipóteses de serem uma alternativa duradoura e repetitiva… Assim como os clientes são cada vez mais chamados a participar na produção do produto ou serviço, também os cidadãos ao nível individual ou coletivo devem ser chamados à lissa na elaboração dos orçamentos autárquicos. Cada vez mais temos de estar todos envolvidos; a democracia não é apenas o dia das eleições ou quando algo nos afeta e nessa circunstância nos envolvemos na “coisa” pública. A participação democrática do maior número de cidadãos é a forma melhor e maior de criar Valor.
Criar valor
Opinião de António José Matos