Falemos da realidade. Quarenta anos de democracia deve ter dado para aprendermos um pouco sobre política e principalmente sobre as pessoas e o que as move… A democracia é a vontade do povo, emana do povo, mas é uma vontade que rapidamente sai do controle do povo. O sufrágio é a forma de transferir o poder do povo para os políticos. Os políticos, grande parte dos políticos, a única coisa que conhecem da política é a conquista do poder, o exercício do poder e a manutenção do poder. A política está sozinha, perdeu a Ética, mas não foi só agora…a política vive o tempo de Maquiavel, onde os fins justificam os meios. Qualquer meio serve para se alcançar o poder, depois tudo vale para o manter e exercer. É assim, é a nossa realidade.
Durão Barroso foi um fugitivo e emigrante de luxo, ganhou as eleições mas rapidamente se esqueceu de quem o elegeu, não respeitou as pessoas que votaram nele para primeiro-ministro, a ambição e o ego falaram mais alto…Jorge Sampaio era o Presidente da Republica; assim que teve alguém da sua área politica em posição de alcançar o poder, mandou o Santana Lopes ao “chão”, convocou novas eleições e passou o poder para o Sócrates.
No segundo mandato, José Sócrates não conseguiu a maioria absoluta. Nós em Azambuja ainda tivemos a promessa da duplicação da estrada nacional 3 entre Azambuja e o Carregado. Promessas…demoramos mais tempo de Azambuja ao Carregado que do Carregado a Lisboa, mas esta não é a nossa conversa de hoje. Muito se fala de coligações negativas, todos o dizem quando as coisas não lhes convêm… num passado recente vimos uma coisa fantástica: CDS, PSD, PCP e BE, todos juntos votaram uma moção de censura que derrubou José Sócrates. Parece ser muito fácil colocar o PCP e o BE a votar contra; são os partidos do contra, ser do contra é a sua génese. Constituíram-se as muletas do Poder, do PSD e do PS. Ora derrubam o PS e colocam o PSD e CDS no governo, ora derrubam o PSD e CDS, colocando o PS no governo se o Presidente da Republica indigitar António Costa.
Nas penúltimas eleições o PSD foi a votos sozinho, conseguiu apenas uma maioria relativa, que não dá para governar, ou pelo menos não dá para governar com eficácia e coligou-se com o CDS para ter maioria absoluta. Foi uma maioria absoluta arranjada na Assembleia da República, após as eleições. O CDS, onde habita o senhor das decisões irrevogáveis, mas que rapidamente revoga as suas decisões irrevogáveis quando os seus objetivos e interesses pessoais já estão de acordo com o que ele quer…ser vice-primeiro-ministro. Não se preocupou com os mercados, preocupou-se apenas em satisfazer a sua ambição pessoal. Quantos mil milhões custou ao país, a todos nós, aquela birra?
Em Portugal não se vive com uma Constituição consuetudinária; a nossa Constituição não é baseada no costume ou tradição, como a Inglesa. A nossa Constituição é escrita e enquanto não houver outra é ela que nos rege. Vivemos num regime semi presidencialista, onde é necessário conjugar as “vontades” do Presidente da Republica com os interesses manifestados pela Assembleia da Republica. O PS não ganhou as eleições mas, à semelhança de outros, conseguiu no parlamento trazer à tona aquilo que está na génese do BE e PCP: votar contra e ser muleta para outros alcançarem o poder. A Constituição está a ser cumprida…, mesmo que para alguns estejamos na presença de uma coligação negativa, outra vez…
Num meu artigo aqui no Fundamental, escrevi que o PS e o PSD tinham de se entender a bem de Portugal e dos Portugueses, porque para mim, assim como para tantos, o BE e o PCP são partidos apenas de protesto. Não os via a fazer parte de nenhuma solução. Estaremos nós perante um novo paradigma? As esquerdas conseguem entender-se? Ou entenderam-se apenas para mais uma vez serem do contra? Se tudo isto resultar, temos de tirar o boné em sinal de respeito ao António Costa, pois é uma verdadeira fénix: não ganha as eleições e consegue manter-se à frente do PS e chegar a primeiro-ministro. Mas está a jogar tudo no fio da navalha, se, como é muito provável, o BE ou o PCP lhe tiram o tapete…
Voltando a falar de coligações negativas: nas últimas eleições autárquicas em Azambuja o PS ganhou, mas sem maioria absoluta. Os eleitos do PSD, CDS e PCP, juntaram-se numa lista conjunta para a Presidência da Mesa da Assembleia Municipal. Só é negativo quando é para um lado?
As muletas e as coligações negativas
Opinião de António José Matos