

No pós 2ª Guerra Mundial, em 1951, foi criada a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. Aos três primeiros países, Bélgica, Holanda e Luxemburgo, juntaram-se a Alemanha Ocidental, França e Itália e foi constituída a CECA. Os pais da CECA e por conseguinte da CEE, mais tarde UE, foram Robert Schuman e Jean Monnet.
A CECA tinha vários objetivos e uma missão alargada: deveria permitir maior expansão económica para proporcionar o aumento do emprego e do nível de vida das pessoas. Modernizar a produção, desenvolver o comércio internacional, melhorar as condições dos trabalhadores. Estes, entre outros, eram objectivos competência da CECA, ainda que os salários e a mobilidade de mão-de-obra fossem das competências nacionais. Mas havia uma Alta Autoridade que podia intervir em caso de salários anormalmente baixos e de reduções de salários. Schuman e Monnet defendiam que deveria ser seguida uma política de pequenos passos em função das necessidades dos povos. Em 1967 foi criada a CEE e em 1993 institucionalizou-se a UE.
A ideia, o sonho, era criar uma europa solidária, onde todos tivessem uma vida condigna, baseada na economia e na indústria. Estava bem presente na mente das pessoas de então o que precipitou a 2ª Guerra Mundial. O desemprego e as convulsões sociais levaram à 2ª Guerra Mundial, à Revolução Francesa, à Revolução Russa,… O desemprego e as convulsões sociais são o caldo onde se desenvolvem todos os radicalismos.
Não é demais lembrar que uma velha direita autoritária, anti-liberal e xenófoba, está a emergir por toda a Europa. Começou assim na década de 30 do século passado. Atualmente, assistimos a uma esquerda a querer direitos impossíveis e a uma direita neoliberal refém da alta finança, distraídos de tantas outras coisas tão importantes… O extremismo poderá ter algumas origens culturais mas efetivamente são as questões económicas que acabam por exacerbar todos os extremismos. Pede-se sensatez e equilíbrio, o justo equilíbrio.
O metal, o vil metal, derrotou todos os sonhos. Sei que é impossível vivermos na ilha da Utopia de Thomas Moore, mas assim não dá… A Europa, ao contrário do defendido pelos seus fundadores, passou a ser decidida de cima para baixo, não em função das necessidades dos povos, mas em função das necessidades dos funcionários públicos europeus, simples lacaios da grande finança. Deixou de ser uma Europa da economia, da indústria, dos direitos, da tolerância, para ser uma Europa do poder financeiro. Nunca as crises e as “bolhas” deram tanto dinheiro à alta finança; sendo o risco maior, maiores e mais rápidos são os lucros, porque maiores serão os juros a aplicar. Quanto mais falências, maior é o risco, maiores são os juros. Quase dá para pensar que “alguém” pensa como criar o risco, fazendo dele um motor de lucros maiores e mais rápidos. Em paralelo é construído um deserto de valores éticos e morais, e tudo vale para a obtenção do lucro fácil.
Claro que a Grécia e os gregos têm de ser mais responsáveis, não podem andar constantemente de mão estendida a gastar o que não têm, mas a crise grega não apareceu de forma ascendente, assim como nenhuma outra crise. Se alguém fez contabilidades “criativas”, dizendo de forma simpática, não foi o povo; se alguém ao nível europeu permitiu, não foram os povos. Tudo isto tem acontecido de cima para baixo, mas agora os culpados e quem tem de resolver são, invariavel-mente, os que estão na base da pirâmide.
Houve um acordo que foi feito numa base de contrários: foi o governo grego que escreveu o acordo, as instâncias europeias só tiveram de o inverter…Em política nada acontece por acaso. Se em Portugal tudo se joga ao centro, seja centro esquerda ou centro direita, há países em que assim não é, como a nossa vizinha Espanha com o “Podemos”. Se a Grécia vale 2% do PIB europeu, a Espanha vale muito mais. A Grécia vai ser o cordeiro a sacrificar para imprimir medo à Europa e assim afastar a possibilidade do “Podemos”, do Syriza e outros Syrisas poderem ver o poder por dentro e desse modo continuar a ser a alta finança disfarçada de democracia a mandar e desmandar no destino dos povos. Mas não se esqueçam da década de 30 do século passado. Uma das coisas que temos de aprender com a história é que ela se repete…
O título deste escrito é 10000. 10000 pessoas foram quantas se suicidaram na Grécia num ano, grande parte devido a problemas económicos e/ou financeiros. 10000 é a população de Azambuja, é como se Azambuja desaparecesse do mapa e todos os que cá vivemos. 10000 é um genocídio. Onde estão os criminosos de guerra?
Aos líderes desta europa ao serviço do dinheiro, uma Europa mais competitiva que solidária, aconselha-se a leitura da encíclica do Papa Leão XIII, Rerum Novarum. Está lá tudo…
Não podia acabar este escrito sem citar um Homem que veio trazer mais Sol e Luz ao mundo, mas que o mundo teima em não querer ver: o Papa Francisco. O Papa Francisco pediu aos participantes do Fórum de Davos de 2014 que consagrassem os trabalhos a “assegurar que a humanidade é servida pela riqueza e não governada por ela”.
Davos, Fórum dos surdos…