Referências

Cinquentenário do Externato São Bernardo - Centro Social e Paroquial de Azambuja. Opinião de António José Matos

António José Matos

Vivemos hoje num mundo onde tendem a escassear os valores.
Saint Simon já no século XVIII dizia que os Homens podem e devem organizar-se para agir em conjunto e atingir um objetivo comum. Também advogava que tínhamos de fundar uma sociedade que estivesse próxima dos indivíduos, onde o capital tivesse apenas um papel instrumental de meio e não um papel de fim. Se a economia pode e deve fazer abordagens científicas e estudar os diversos assuntos, as Ideologias devem ser sistemas de valores organizados que valorizem o certo e o errado, o bom e o mau, a Política deve ser o meio para pôr em ação os valores.
Apesar de todas as dificuldades que grassam no nosso país, em 1965 vivia-se com muito mais escassez de bens materiais. No entanto em Azambuja havia um homem de características ímpares… e dotado de mais recursos, fruto do seu trabalho e inteligência. Esse homem possuía uma solidariedade humana extraordinária. Esse homem, um timoneiro, um verdadeiro homem do leme, faz muita falta. Fazem muita falta homens assim, que consigam navegar e ajudar outros a navegar num caminho que não seja o do pântano.
Porque a melhor forma de se poder proporcionar às pessoas a possibilidade de evolução é permitir o acesso ao ensino e ao conhecimento. Porque nascemos em plataformas diferentes, sem as mesmas condições de exercer plenamente a liberdade. Só através do conhecimento podemos atingir mais liberdade, podemos sonhar que teremos o futuro que quisermos e assim torná-lo realidade. Porque não há impossíveis se não desistirmos. Porque só numa sociedade formada e bem informada podemos ter liberdade e garantias, garantias essas que devem ser limitações ao exercício do poder, para que não se abuse das liberdades e dos direitos dos cidadãos.
Em Azambuja a escolaridade ia apenas até à quarta classe; quem tivesse nascido numa plataforma familiar de mais escassos recursos não tinha possibilidades de continuar a estudar pois tinha de se deslocar para Vila Franca de Xira ou Santarém.
O Engenheiro Bernardo Moniz da Maia, pelo que se conhece dele, era um homem temente a Deus, dedicado à família e à Pátria, dedicado aos outros. Era um homem de respeito e muito respeitado, de uma educação extrema. Nele existiam os sentimentos de solidariedade, partilha, dadiva, dedicação, serviço, sabedoria, gratidão,… estes sentimentos correspondem à identidade mais profunda do ser humano. Os recursos eram seus, não era obrigado a partilhá-lhos com ninguém. No entanto era um homem à frente do seu tempo, percebeu que a breve trecho seríamos uma sociedade do conhecimento, e quem não tivesse as ferramentas necessárias ficaria para trás… foi um homem que não quis evoluir sozinho, generosamente abdicou de parte dos seus recursos a bem da comunidade onde vivia e mandou construir o Externato São Bernardo, para que os jovens do concelho de Azambuja não tivessem de se deslocar para Vila Franca de Xira ou para Santarém para ter acesso aos estudos.
Era um homem simples e humilde; abeirarmo-nos de Deus é tornarmo-nos mais livres para sermos mais solidários, mais contemplativos, mais generosos, mais agradecidos. Só pessoas com uma simplicidade de coração, com um compromisso de Fé autêntico são pessoas de corpo inteiro.
No dia 18 de Abril comemorou-se o cinquentenário do atual Centro Social e Paroquial. O homem bom, o Azambujense de exceção foi recordado e homenageado, o povo do concelho de Azambuja quis dizer um “Muito obrigado, não o esqueceremos Sr. Engenheiro Bernardo Moniz da Maia”.
Foi homenageada toda a família Ortigão Costa, o Dr. Luís Ortigão Costa seguiu os passos do seu sogro, foi igualmente uma pessoa única, igualmente sempre disponível para ajudar os outros. Não há nenhuma associação ou coletividade em Azambuja que não tenha de dizer “Obrigado” ao Dr. Luís Ortigão Costa e à sua família. São referências assim que nós precisamos. Tão boa ascendência só poderia dar uma fantástica descendência, uma ínclita descendência… vocês são as novas referências, não ficaram à sombra, não se acomodaram ao que encontraram e continuaram a obra, e Azambuja orgulha-se de vós, orgulhamo-nos da obra empresarial que continuaram e dinamizaram… de continuarem a ser essas pessoas boas, simples e sempre dedicadas aos outros…
A diferença não está nas ideologias, está nas pessoas…
Muito Obrigado à família Moniz da Maia e Ortigão Costa.

VIAAntónio José Matos
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