
Nunca planeei muito a minha vida, nem ao nível profissional, nem ao nível pessoal, mas tudo foi acontecendo. Não planeava muito mas assumia as responsabilidades e foi assim, graças a Deus, que tive quatro filhos, o António Miguel, o João, o Francisco e o Pedro.
Tentei não ser um pai ausente, mas receio não ter conseguido acompanhar o suficiente…as obrigações eram e são tantas, que a sacrificada foi e é a família. As ausências na hora da refeição, nas idas ao médico, nas férias…
Ter origem numa família que se ama bastante, que está sempre presente de corpo e alma para tudo o que for necessário, uma família que seria sempre a que eu escolheria, mas que mete – meteu sempre – o trabalho e as obrigações à frente de tudo, não ajudou…e fiquei a ser assim…
Amamos todos os nossos filhos de igual modo, mas o primeiro, o mais velho, aquele a quem damos o nosso primeiro nome, ainda que não se fale nisso, é muito importante. O meu António Miguel, de quem me orgulho muito, já está a trabalhar, nunca se queixou, sempre acatou tudo de forma exemplar, mas há um dia em que as “coisas” deixam de ser da mesma maneira, reflexos… o João, tinha de ser João… emotivo e explosivo mas muito carinhoso; o Francisco, muito esforçado, mas irreverente e ainda que em polos opostos, muito responsável pelos seus… o Pedro, se fosse um rei teria o cognome do Justo, é inteligente e voluntarioso, bom para os negócios, mas sempre em luta interior para ter as acções mais justas. Todos com a sua personalidade própria, mas todos com um enorme sentido de justiça. Tenho uns meninos fantásticos, com todas as suas diferenças mas para mim, afetivamente iguais.
Quem tem filhos neste tempo tem um problema acrescido; o mundo move-se mais rápido que nunca e por vezes não nos conseguimos adaptar às novas exigências. As solicitações são tantas que por vezes falhamos, não percebemos que somos nós que temos de aprender a viver neste novo mundo e não eles. Dei-lhes sempre toda a liberdade, confiei e confio muito neles. A liberdade tem um preço para nós, pais… e se acontece algo? Graças a Deus nunca aconteceu e espero que nunca aconteça. Sinto-me grato, sempre me mimaram e eu tento ajudá-los o mais que posso, nestes tempos tão difíceis e incertos…
Ainda que o amor e devoção por eles seja de uma grandeza descomunal, a maior que um pai consegue dar, nem sempre o consegui demonstrar. Por vezes ficou apenas nas entrelinhas, quando devia ser a componente mais importante do texto e escrito a negrito.
Cheguei aos cinquenta, imensa idade para quem nos olha de uma colina de quinze e um jovem para quem nos olha de uma montanha de oitenta, considero por isso a idade da relativização. O que é mau, provavelmente não é assim tão mau, mas também não há o deslumbramento perante as coisas boas que nos acontecem. Mas custa, custa imenso ver acontecer coisas que nunca deveriam ter acontecido, coisas que nunca pensávamos ser possível de nos acontecer, mas temos de estar preparados para tudo porque tudo faz parte da vida. Olhando para trás reparamos que a velocidade da vida é vertiginosa, o hoje rapidamente se transforma no ontem, o amanhã das nossas vidas tem de ser já hoje, porque o hoje já é tarde…não podemos desperdiçar desta maneira este bem tão escasso que é o tempo e o amor.
Amor, esta palavra que tem tudo e por vezes é tão grande e não tem nada… no amor tudo passa a acontecer dentro de nós, ainda que noutra dimensão, porque por vezes é tão grande que seria impossível caber no mundo, quanto mais dentro de nós. Amor incondicional é o que temos pelos filhos, façam eles o que fizerem; quando for necessário, ou realmente necessário, estamos, temos de estar lá…, na Igreja ouvimos que Jesus teve esse Amor Maior que foi dar a vida por nós. Também eu, também qualquer pai ou mãe tem esse Amor Maior, um amor só compatível com um Amor de Deus, esse Amor Maior onde se necessário damos a vida pelos nossos filhos. No entanto entre pais e filhos, onde existe esse Amor Maior, por vezes falta algo, falta compreensão. Quanto mais o tempo passa maior é a crosta que fica à volta das feridas, não há Amor Maior que nos salve, se não formos todos homens de boa vontade, capazes de derrubar os muros das coisas pequeninas, para que finalmente consigamos alcançar o tanto, que a vista e o pensamento alcançam…