Um humano morre de fome a cada 4 segundos… e a cacofonia do CoronaVírus

Opinião de Nuno Cláudio (Director do Fundamental)

Não pretendo escamotear a gravidade do vírus da China, tão-pouco o impacto que poderá ter na sociedade dos homens por esse planeta fora. Mas a cacofonia em torno desta virose gripal é de uma histeria mediática que eu adoraria ver replicada nos casos de humanos que morrem de fome todos os dias. A um ritmo de uma morte a cada 4 segundos.

Confesso que fico revoltado por não perceber a lógica da existência humana neste canto do Universo. A uns tudo lhes é (foi, e será) facultado, proporcionado. Refiro-me a condições básicas de vida, comida, oportunidades, incluindo a de ser amado e respeitado. A outros, dá a sensação de nascerem fadados para cumprir uma pena de horror por atrocidades talvez cometidas em outra existência.

A cada 4 segundos morre um humano de fome, boa parte crianças, muitas delas de África, como o menino que está documentado nesta foto. E morrem por responsabilidade única e exclusiva dos adultos gananciosos e defeituosos que a raça humana produz. Gananciosos, cínicos e corruptos, que apresentam uma estranha capacidade de aparentarem ser felizes no meio da ostentação mas rodeados de miséria.

E eu insisto: mesmo com o Mundo a produzir alimento suficiente para toda a população do planeta, a cada 4 segundos uma pessoa morre de fome. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) lançou um alerta: 1,4 milhão de crianças correm o risco de morrer de fome em quatro países: Iêmen, Nigéria, Somália e Sudão do Sul. O último declarou oficialmente que é atingido por um “surto de fome”.

A situação no Sudão do Sul já é conhecida desde há algum tempo. 5 milhões de pessoas vivem num cenário de insegurança alimentar severa, o último passo antes de chegar à situação de fome aberta, no qual as pessoas começam a morrer de fome diariamente. 2% da população está a morrer de fome. Mas como esta maleita não chega aos ricos e remediados, não é notícia; não é digna de directos nem de histeria permanente.

Na Somália o problema é a seca (para não referir a guerra, a corrupção e a selvajaria dos homens), esta tão grave que quase metade da população não tem comida suficiente. Um total de 6,2 milhões de pessoas. A desnutrição severa deve afectar 270 mil crianças nos próximos meses. Outro país em conflito, o Iêmen, viu o total de crianças nesta condição subir 200% desde 2014: actualmente, 462 mil menores iemenitas estão desnutridos.


VIANuno Cláudio
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