António José Matos é vereador na Câmara Municipal de Azambuja, eleito nas últimas autarquicas pelo Partido Socialista. O antigo presidente da Assembleia Municipal tutela as pastas da Cultura e do Património Cultural, para além de estar responsável pelo Turismo, Coletividades, Fundos Comunitários e Desenvolvimento Económico, entre outras áreas. Aqui fica a entrevista a propósito da Feira de Maio.
F – Qual foi a orientação e o princípio seguido na concepção do cartaz de promoção da Feira de Maio?
António José Matos – Tenho de colocar um ponto prévio. Hoje em dia já não podemos falar apenas em cartaz. Quando se desenha a imagem gráfica para um evento temos de ter em conta a sua adaptação aos vários suportes de comunicação gráfica onde se inclui o cartaz. Posto isto, o que a imagem gráfica da Feira de Maio procura é uma comunicação simples e directa.
F – Mas qual foi a linha orientadora para a concepção deste cartaz em concreto?
António José Matos – Existem três elementos chave que nunca vamos abandonar, porque se assim acontecesse seria muito grave para a nossa identidade cultural e poderia contribuir para o desaparecer da tradição taurina, que é tanto nossa. Quando associamos a palavra Feira a uma imagem que desenha um touro, um cavalo e um campino conseguimos transmitir de imediato o tema e transportar o observador para o ambiente que queremos comunicar. Do ponto de vista de conceito teremos de eleger sempre estes três vértices como a essência da nossa festa porque este triângulo é o mote para a reunião de tantas pessoas nestes dias.
F – Consideras que a imagem gráfica do cartaz cumpre o objectivo de divulgar a Feira em toda a abrangência da sua essência?
António José Matos – Considero que sim. Sabemos que muitas pessoas nos visitam não só pelo tema da festa mas também pelo ambiente, pelos espectáculos, pela gastronomia, onde a Praça das Freguesias tem um papel fundamental; pelo artesanato, pela tão rica, genuína e diversificada animação cultural (por exemplo o fado vadio), pela sardinhada assada, pelas tertúlias que são um património material e imaterial fantásticos que nós temos.
F – As tertúlias serão o ponto de partida para a preservação do verdadeiro espírito da Feira de Maio?
António José Matos – Note-se que é através deste ambiente tertuliano que nós vamos conseguindo passar aos mais novos os nossos valores e a nossa cultura, pois de outra forma essa transmissão ficaria em risco. Não podemos deixar que hajam hiatos geracionais na preservação e dinamização da nossa cultura. Portanto, a imagem gráfica da Feira cumpre o objectivo de relembrar que a essência da nossa festa é esta: o fervor, o entusiasmo, a alegria em torno do cavalo, do toiro e, muito importante, do campino.
F – A apresentação gráfica do cartaz está, mesmo assim, a causar algumas reacções adversas, havendo opiniões que apontam o mesmo como inadequado ao verdadeiro espírito da Feira de Maio.
António José Matos – O desafio passou por desenhar uma imagem gráfica actual sem perder o verdadeiro carácter da festa. Este é um desafio constante na comunicação gráfica – conseguir dialogar com novos públicos, trazer novas pessoas ao nosso concelho. Reproduzir uma imagem da festa pode já não ser suficiente para comunicar com os novos públicos. A imagem gráfica foi desenhada com base numa ilustração original que transmite não só um tema mas também uma sensação.
F – No teu ponto de vista, o cartaz cumpre com o propósito para o qual foi criado?
António José Matos – Penso que conseguimos transmitir vitalidade e modernidade à nossa Feira Centenária através do cartaz. O equilíbrio entre comunicar com novos públicos e agradar às nossas gentes é o desafio mais importante no desenho da imagem gráfica da Feira de Maio. Quando quisemos promover e divulgar a Feira de Maio, tentamos fazê-lo onde existem muitas pessoas, estradas, rotundas, incluindo os sistemas de transporte da Capital, que é onde passam diariamente muitos milhares de pessoas. Fomos imediatamente alertados para a violência com os animais…
F – Esse factor foi determinante para a opção de trilhar outros caminhos no que diz respeito ao aspecto gráfico do cartaz da Feira?
António José Matos – A Ordem dos Psicólogos, a propósito de uma iniciativa do partido PAN, num parecer datado de julho de 2016 e intitulado Impacto Psicológico da Exposição das Crianças aos Eventos Tauromáquicos, considerou que, e cito, “da evidência científica enunciada parece ressaltar o facto de que a exposição à violência (ou a actos interpretáveis como violentos) não é benéfica para as crianças ou para o seu desenvolvimento saudável, podendo inclusivamente potenciar o aparecimento de problemas de Saúde Psicológica”. Agora tudo conduz a traumas… enfim. Tudo vale para tentarem acabar com a nossa festa.
F – Qual é a posição do vereador António José Matos em relação à orientação de partidos como o PAN ou os movimentos anti-taurinos?
António José Matos – Não vamos deixar que acabem com a festa. No Equador só podem entrar nas praças de touros pessoas a partir dos 18 anos, que é o que também estão a tentar fazer em Portugal. Estão a tentar que haja um hiato geracional e dessa forma estão a tentar que se perca a nossa cultura e tradição. Acabar com a Festa sem ser de forma legislativa, mas sim geracional. Como disse, não vamos deixar que tal aconteça.
F – Então o equilibrio da imagem do cartaz foi essencial para que este pudesse ser aceite nas diversas plataformas de divulgação?
António José Matos – Tentámos de facto produzir uma imagem que não chocasse e dessa forma conseguirmos publicitar em todos os locais e ao mesmo tempo manter os três elementos fundamentais da nossa festa, como já disse, o touro, o cavalo e o campino. Quanto mais pessoas conseguirmos trazer, mais pessoas vão perceber o quanto é bonita e fantástica a nossa festa e o que faz dela a mais castiça. O ambiente que todos nós proporcionamos uns aos outros, aquilo que não se vê mas se sente, esses são factores que não cabem em nenhum cartaz, seja ele feito de que forma for.
F – Qual é a melhor forma de descrever a Feira de Maio para quem nunca veio à Azambuja nos dias desta festa?
António José Matos – A Feira de Maio é um evento único, vivo e dinâmico, e tem sido alvo de melhoramentos contínuos, uns mais visíveis que outros. Sendo o ponto mais alto as entradas de touros, as largadas e as recolhas, também se reveste de muitas outras vertentes. Temos este ano três pavilhões dois dedicados às empresas e artesanato e outro à praça das freguesias, com uma boa presença assegurada de empresas ligadas ao turismo. Queremos que as pessoas venham cá e voltem à Azambuja.
F – Azambuja tem oferta suficiente de serviços no contexto do turismo que se pretende atrair ao concelho?
António José Matos – Estamos a tentar promover as nossas actividades económicas pelo exemplo e divulgação. Azambuja carece muito de restauração, de facto. Vamos apostar na gastronomia e nos vinhos, e todos os dias de feita vão haver sessões de showcooking, assim como provas de vinhos e a harmonização dos nossos vinhos com a nossa gastronomia. Desta forma pretendemos alertar as pessoas para novas oportunidades, para as carências que existem no mercado, e formas de as colmatar.
F – Este ano o exército estará presente num stand da Feira. Porque razão?
António José Matos – A Feira começou por ser uma feira de gado cavalar para o exército, e essa é a razão pela qual o exército se vai fazer representar num stand. Esta poderá ser uma vertente a explorar no futuro, assim como a exposição de maquinaria agrícola. Uma tarefa difícil, mas que deve estar na nossa mente para que se possam dar passos na sua resolução, passa pela dispersão dos diferentes equipamentos. A Feira de Maio já é uma Feira de dimensão nacional, e queremos mantê-la assim ou se possível ir mais longe. O espírito do evento… quem cá vem, volta, é um espírito apaixonante, onde imensas vezes a emoção ultrapassa a razão. Daí tratar-se de uma Feira viva, porque só as coisas vivas podem entrar em conflito saudável.