

F : Como é que o António José Matos comenta o processo que o elegeu como presidente da Assembleia, agora que passou mais de um ano após os acontecimentos de 15 de Outubro?
A.J.M.: Há pessoas que pensam que são donas de outras, e há pessoas que pensam que podem pensar pelos outros. Teve que haver pessoas ou do PSD ou da CDU ou de ambos os lados que não votaram na estratégia dos seus próprios partidos porque não concordaram com aquela forma ligeiramente autocrata de fazer as coisas.
F : Foi uma lição para as lideranças do PSD e da CDU?
A.J.M.: As pessoas da CDU aprendem lições. As do PSD não aprendem, porque não têm capacidade para aprender. Neste ano que levo de Assembleia Municipal deu para ver que há pessoas que, ainda que agarradas a um cariz mais ideológico, conseguem ter discernimento para distinguir a substância da política. E há outros que não vêem absolutamente nada a não ser política numa perspectiva de que quanto pior, melhor. Estou a falar do PSD, embora admita que hajam lá uma ou duas excepções. Mas a maior parte das pessoas que estão na Assembleia Municipal eleitas pela Coligação Pelo Futuro da Nossa Terra, e mesmo as que estão eleitas na Câmara, são pessoas que pensam desta forma: quanto pior, melhor. E quanto a isso seguramente que quem votou neles se sente defraudado, pois quando votamos em alguém para nos representar na vida pública ao nível da política será sempre partindo do princípio que quanto melhor estiverem as coisas, melhor será para o colectivo.
F : Estamos a falar de António Jorge Lopes?
A.J.M.: Estamos a falar de algumas pessoas da Coligação Pelo Futuro da Nossa Terra.
F : Esse princípio do “quanto pior, melhor” também se aplica à discussão em torno da concessão das águas?
A.J.M.: Aplica. Eu sempre fui contra a entrada para as Águas do Oeste, tal como sempre fui contra a concessão em baixa às Águas de Azambuja. Dois dos piores erros da gestão camarária deste concelho. Se este sector estivesse sob alçada da Câmara, a vender água a este preço, concerteza que as estruturas estariam praticamente todas pagas, e o município fazia dinheiro. Mas os erros foram cometidos, a decisão está tomada, e não podemos andar sempre a fazer com que chova no molhado.
F : Então qual é a gora a solução?
A.J.M.: Passa por tentar resolver as coisas da melhor maneira. Segundo o mais recente parecer da ERSAR há razões por parte da concessionária para pedir o reequilíbrio financeiro da concessão, mas acrescenta que o caso base tem que ser visto de outra forma, assim como as projecções financeiras também têm que ser vistas de outra forma.
F : Então todo o contrato tem que ser revisto?
A.J.M.: Tem que haver mais diálogo entre as partes. Este parecer da ERSAR deixou tudo num campo cinzento. Ou seja, nem é preto nem é branco.
F : Mas a oposição na Câmara diz que toda esta questão é demasiado obscura, afirma que a maioria não fornece documentos, não presta esclarecimentos e até dão a entender que há, ou houve, alguém a beneficiar com todo este processo.
A.J.M.: Neste mandato as coisas mudaram totalmente na Câmara. Dantes havia a razão da força, mas desde que chegou Luís de Sousa à presidência e desde que eu cheguei à presidência da Assembleia Municipal há a força da razão. Agora não se esconde nada, tenta-se aprovar e decidir tendo em conta o que é melhor e mais justo. Apesar do Luís de Sousa já estar há muito tempo na Câmara, ele não tinha conhecimento de alguns dos dossiers, como hoje já tem. Todos os deputados municipais e vereadores já receberam toda a documentação disponível sobre as águas, que também se encontra no site da Câmara. Mas toda mesmo. À medida que eu vou tendo os documentos passo-os logo para o conhecimento de todos. E estão todos no site da Câmara.
F : Então a que documentos e a que obscuridade é que se referem os vereadores da oposição?
A.J.M.: Não faço ideia.
F : Daniel Claro tem sido um combatente neste processo. É daqueles que também acham que quanto pior, melhor?
A.J.M.: O Daniel Claro é um guerreiro. É o exemplo do que deveria ser o resto do povo, porque a maior parte das pessoas pensa que o exercício do direito de cidadania em democracia começa e acaba na altura do voto. Não chega. Algumas pessoas pensarão sobre o Daniel Claro: “eh pá, lá vem este chato outra vez”. Eu acho que aprendemos sempre alguma coisa com ele.
F : Segundo o estudo da DECO que o Fundamental publicou na sua última edição, o preço da água em Azambuja nem é dos mais elevados na região.
A.J.M.: O preço está em valores médios, e eu vejo que as pessoas na empresa Águas de Azambuja se esforçam para fazer o melhor serviço possivel. Mas uma coisa é o serviço que a concessionária presta, e outra é a questão se deveria ou não ter sido o serviço concessionado. Como já disse, considero que foi um erro e vamos ter mais problemas no futuro.
F : Que problemas?
A.J.M.: As pessoas vão desgastar-se imenso em torno da discussão no âmbito desta questão política. Há quem não esteja neste processo para ajudar a criar as melhores soluções. Há quem esteja só para colocar pedras na engrenagem. É como em tudo o resto: eu já aconselhei o presidente da Câmara aquando do encontro de contas deste ano a chamar o Partido Comunista a dar o seu contributo para decidirmos o que gastar e em quê. São pessoas que têm pautado a sua conduta por bom senso absoluto. Sem o bom senso do Partido Comunista não seria possivel que a Câmara estivesse a trilhar os caminhos positivos que tem trilhado.
F : E o PSD, não?
A.J.M.: Não. Só cá estão para fazer mal, para deitar abaixo. A ideia que a Coligação transmitiu até agora é esta: só lá estão para fazer mal. Quanto pior, melhor para eles.
F : Porque é que as pessoas insistem na crítica de que o Luís de Sousa nunca sabe de quase nada, não tem capacidade para ser presidente, não tem argumentos, e outras que tais?
A.J.M.: O Luís de Sousa é um homem super honesto, incapaz de inventar o que quer que seja. Quando não se sente capaz de dar uma resposta verdadeira, remete para mais tarde, para ter tempo de se documentar.
F : Mas tendo em conta os anos que tem de Câmara, não seria de esperar que estivesse mais por dentro de determinados assuntos?
A.J.M.: Não creio. O Joaquim Ramos protagonizava uma presidência muito centrada em si próprio, e provavelmente não dividia assim tanto o conhecimento sobre certos assuntos. Embora na Câmara há muitos anos, em relação a determinadas matérias Luís de Sousa é como se tivese entrado de novo em 2013.
F : Tiveste alguma dificuldade perante a opinião pública por seres candidato pelo Partido Socialista depois de em toda a tua vida política teres sido candidato e autarca representando o PSD?
A.J.M.: Foi mais um desafio. Eu não me revejo neste género de fazer política baseado no quanto pior, melhor. Já em 2009 não fui candidato a qualquer orgão e em 2013 eu acredito que muitos dirigentes do PSD tenham votado em mim para presidente da Assembleia Municipal.
F : Porque afirmas isso?
A.J.M.: Porque António Jorge Lopes e Carlos Valada vieram ter comigo, reuniram comigo em Aveiras de Cima, no Café Cinema – penso que se chama assim – e estiveram até às 3 da manhã a tentar convencer-me a ser candidato pelo PSD à Assembleia Municipal. Não percebo como é que mais tarde António Jorge Lopes vem dizer que eu não tenho ou estatuto, ou carisma, ou lá o que ele disse que eu não tinha para ser presidente da Assembleia Municipal, quando ele próprio me convidou para o cargo. Mas já estamos habituados a que seja uma pessoa enviezada: também quis dar uma medalha ao Luís de Sousa por ser bom presidente e a seguir vem dizer que é o pior presidente de sempre.
F : Mas as pessoas não te chamaram de vira-casaca na rua?
A.J.M.: As pessoas que me conhecem bem estão ao meu lado e não dizem absolutamente nada. As que não me conhecem assim tão bem e que são clubistas pelo PSD não viram muito bem esse assunto. Mas com o meu trabalho e com a dedicação a esta causa eu vou conseguir convencê-los de que afinal fiz bem. Além de tudo, todo o dinheiro que ganho com as senhas de presença nas assembleias eu dou à Casa Mãe em Aveiras de Cima e à Cerci em Azambuja.
F : Essa é uma estratégia para daqui por três anos seres visto com bons olhos para candidato pelo PS à presidência da Câmara?
A.J.M.: (sorrisos) Não me vejo nesse papel, o de candidato a presidente da Câmara. Mas o futuro a Deus pertence. Foi para demonstrar às pessoas que não ando nisto por dinheiro. Nesta área, como em tudo na vida, ando com um espírito de missão.
F : Mas todo esse apoio e elogios a Luís de Sousa dão a entender que segues uma estratégia: ser candidato a candidato do PS em 2017 e teres nesse processo o apoio do actual presidente da Câmara.
A.J.M.: Mal seria se eu não apoiasse o presidente da Câmara, atendendo às funções institucionais que tenho. Mas também pela amizade que tenho por ele, e por ter dele esta ideia: é um homem absolutamente honesto. E é a pessoa certa para este tempo que a Câmara vive. Pelo que vemos da sua própria vida é uma pessoa contida, que não gasta dinheiro mal gasto, uma pessoa organizada. É o que a Câmara está a necessitar neste momento, decididamente o pior momento desta autarquia na sua história recente.
F : Mas para Luís de Sousa não será o sair pela porta pequena, depois de tantos anos de Câmara atravessando três presidencias?
A.J.M.: Mais do que um fechar de porta, a missão de Luís de Sousa passa por tentar manter aberta a porta da Câmara. Está a fazer um trabalho duro, pelo que não me parece que saia pela porta pequena.
F : Foi um erro ter colocado Ana Maria Ferreira em quatro lugar nas listas do PS nas últimas autárquicas?
A.J.M.: Estas últimas eleições foram uma lição para muita gente. Vieram demonstrar que as pessoas têm que ser mais dialogantes, mesmo com maiorias absolutas. E demonstraram também que as pessoas têm que ver mais à frente, mais para além da política. O Amaral é uma pessoa esforçada, o Herculano é uma mais valia, uma pessoa muito esforçada, o Silvino é um homem dedicado à causa como muito poucos e o Luís de Sousa também o é, mas… faltou a Ana Maria Ferreira. Fazia toda a diferença.
F : Silvino Lúcio estava mais preparado que Luís de Sousa para ser presidente da Câmara de Azambuja?
A.J.M.: Não sei. São pessoas diferentes. Não vou entrar por aí. Foi uma escolha interna, em que Joaquim Ramos teve muita influência. Eles decidiram entre si.
F : Quais são os grandes desafios que se colocam ao próximo presidente de Câmara, a ser eleito em 2017?
A.J.M.: As infraestruturas estão feitas no concelho. A educação terá que ser a área onde se fará a diferença, e neste particular faz falta uma pessoa como Ana Maria Ferreira. Tem que se reivindicar mais junto dos governos, porque estamos a gastar anualmente mais meio milhão de euros em relação às verbas que são descentralizadas para fazer face às competências. A educação terá que ser a pedra basilar. Teremos que apoiar quem está a viver momentos difíceis, e essa será uma segunda questão. O apoio social e o apoio às colectividades, que fazem o trabalho que a Câmara não consegue fazer, formando e apoiando milhares e milhares de crianças. Não é apoiar todos por igual; antes, tem que haver uma descriminação positiva em relação a quem trabalha e apresenta mais resultados.
F : Aquela velha ideia de atrair empresas para criar empregos: ainda tem futuro? Quero dizer, onde estão as empresas? Quem é que vem investir no concelho para criar dezenas ou mesmo centenas de postos de trabalho? Não será essa uma realização impossivel de levar a cabo?
A.J.M.: Não é fácil. Não vamos desistir desse princípio, mas a Câmara não tem terrenos. O que poderá fazer nessa área terá que ver com a facilitação de tudo o que tem a ver com licenças. Tem que haver um marketing do potencial do concelho, da sua localização geográfica. Pela economia e pela educação passa o futuro deste concelho. Eu vejo aqui na escola secundária, e isto é uma crítica: curso de barman. Curso de empregado de bar e de café… mas andamos a brincar com isto? O que é que estes miúdos andam a fazer, a estudar 3 anos para ser empregados de café? A escola tem que estar integrada com a realidade da sociedade.