Hélder Miguel não poupou a Câmara de Alenquer perante uma multidão que encheu por completo o Parque da Romeira. Este dirigente da ACICA – Associação Comercial e Industrial do Concelho de Alenquer – arrasou a autarquia no que ao apoio à organização da Feira da Ascensão diz respeito. Hélder subiu ao palco e desancou forte e feio nos responsáveis políticos locais, acusando-os de virar costas ao evento e agora pretenderem recupera-lo quando este foi revitalizado com o esforço da Associação.
O discurso de Hélder Miguel foi de tirar o fôlego. Este antigo presidente da Associação encheu-se de coragem, disse tudo o que lhe vai na alma e, supõe-se, o que também irá na alma dos dirigentes da Associação Comercial e Industrial do Concelho de Alenquer. Hélder Miguel foi presidente desta organização na década passada e atualmente faz parte dos órgãos sociais da ACICA.
Antes de lhe transmitirmos o que disse Hélder Miguel perante milhares de visitantes da Feira da Ascensão, convém lembrar ao leitor a história recente deste certame. O evento começou em 1982 pelas mãos de Álvaro Pedro e de Carlos Cordeiro, e nos anos 80 e 90 tornou-se de facto numa Feira de referência na região, mobilizadora e atrativa para milhares de visitantes, ao mesmo tempo que alavancava a economia local através do seu espaço de exposições.
Já no decurso do último mandato de Álvaro Pedro, no final da primeira década deste século, a Feira da Ascensão entrou em declínio, sendo que o próprio Álvaro Pedro chegou mesmo a colocar a possibilidade de a Feira da Ascensão não se vir a realizar no futuro. Foi nessa altura que a ACICA pegou no evento e não o deixou morrer. Desde 2013 que a Feira da Ascensão é, desta forma, um evento organizado pela ACICA. Vamos então ler o que disse Hélder Miguel quando subiu ao palco perante milhares de pessoas:
“Em 2012 a Feira da Ascensão foi cancelada e nós assumimos o evento em 2013, numa altura em que a Feira estava decadente e moribunda. Fomos nós, ACICA, que a transformámos naquilo que é hoje, um evento de âmbito regional, o maior do Concelho de Alenquer”.
“Em 2013 ninguém queria a feira da Ascensão, e nós tivemos a ousadia de fazer a Feira nesse ano com 25 mil euros de orçamento e zero de apoio da Câmara de Alenquer. Em 2014, 2015 e 2016 voltámos a ter zero de apoio da Câmara, e só em 2017 e 2018 é que tivemos 5 mil euros de apoio da Câmara por edição. E este ano voltámos a ter um apoio de 5 mil euros para realizar a Feira da Ascensão”.
“Estas coisas têm de ser ditas, é preciso que as pessoas saibam destes números e desta realidade. O Município de Alenquer deveria apoiar este evento de outra forma, o que nunca o fez com esta organização, e o único apoio que a Câmara deu foi a cedência do espaço, a água e a cedência de funcionários para abrirem e fecharem o pavilhão. Nós pagámos os seguros, a GNR, a luz e tudo o que um evento destes necessita para se realizar”.
“A ACICA é que tem pago a diversão das pessoas do Concelho e dos nossos visitantes, e este ano a Câmara recusou várias vezes a cedência deste espaço para que a Feira aqui se pudesse realizar. Foi precisa muita luta e muita insistência para que a Feira da Ascensão se realizasse este ano, pois primeiro deram-nos a possibilidade de utilizar o pavilhão de zinco mas 15 dias depois já nos retiravam essa possibilidade, e foi precisa muita insistência para podermos ter o pavilhão disponível para a Feira”.
Durante o discurso ouviu-se com insistência uma voz feminina contra a intervenção de Hélder que, às tantas, perdeu a paciência e contra-atacou: “Se não gostas não viesses cá, porque fomos nós que pagámos para poderes cá estar”. A multidão aplaudiu a coragem do homem da ACICA, que reforçou: “vai tu daqui embora, que não estás cá a fazer nada, nem cá deverias ter posto os pés”.
Hélder Miguel continuou: “Lamento profundamente que o Presidente da Câmara tenha escrito na Revista da Feira que este seria o último ano que a ACICA organizaria o evento, porque afinal fomos nós que pegámos na Feira e a transformámos no que ela é hoje; não foi mais ninguém, fomos nós quem fez o trabalho difícil, e não podem esquecer assim quem fez o trabalho que ninguém quis fazer. Hoje é fácil pegar no muito dinheiro que têm para gastar e que não é deles, é de todos nós”.