“Já ganhámos o estatuto de Capital Nacional da Enguia, mesmo sem termos registado essa marca”

Hélder Esménio fala com entusiasmo do crescimento que o Mês da Enguia registou sobretudo nos últimos dois anos. O consumo desta iguaria passou de quatro para cinco toneladas e meia no ano passado e a Feira de Artesanato, criada em 2014, tem dado um contributo decisivo para a afirmação do certame a nível regional. Mas o presidente da Câmara de Salvaterra lamenta que os partidos à esquerda do PS local defendam uma visão mesquinha do investimento que a autarquia tem feito na divulgação deste evento.

Hélder Esménio merece toda a confiança da Concelhia do PS de Salvaterra. O desempenho do presidente leva-o de novo a ser recandidato.

F: Que contributo tem dado este certame para a afirmação da enguia como iguaria e produto “marca” de Salvaterra?
H.E.: O mais importante é o facto da enguia chamar todas as atenções para o Rio Tejo. A proximidade ao Tejo, um produto natural que valoriza o concelho pela sua beleza natural, pelo facto de proporcionar a prática de desportos náuticos, de passeios de barco pelo Rio e observação da natureza. Temos o Escaroupim, temos história, temos folclore e temos cultura. Portanto, o que pretendemos do Mês da Enguia é promover o concelho, promovendo ao mesmo tempo a beleza natural do Rio, a história e o património associado. Temos promovido a limpeza das margens do Rio, passando a ideia à população de que as mesmas não podem ser vistas como locais escondidos onde se depositam lixos. Estou em crer que as pessoas têm reconhecido isso e que recuperámos locais como o Cais da Palhota, o Bico da Vala, a Praia Doce e de alguma forma a própria Aldeia do Escaroupim. Desta forma, o Mês da Enguia é a principal alavanca de divulgação do concelho, não apenas no âmbito da gastronomia, mas também no tocante ao nosso património histórico, económico, social e cultural.
F: A Feira de Artesanato veio conferir nestes últimos dois anos outra dinâmica ao Mês da Enguia?
H.E.: Quando chegámos à Câmara em 2013 tínhamos cerca de 15 expositores, e hoje já vamos com quase uma centena de expositores locais e regionais no âmbito dessa iniciativa. Estamos a crescer de uma feira local para um certame de âmbito regional, num processo que muito gostaríamos de ver caminhar para uma abrangência nacional. Mas para isso necessitaríamos de duplicar o espaço actualmente ocupado pela Feira de Artesanato, o que não é fácil de acontecer no actual recinto, que é nem mais nem menos do que o centro de Salvaterra de Magos.
F: Os visitantes têm na enguia o principal motivo para vir a Salvaterra em Março?
H.E.: As pessoas vêm não apenas para comer a enguia mas também para ver as nossas exposições, a Falcoaria Real, o Rio, e aproveitam para conhecer o artesanato, apresentado pelos produtores locais e regionais. Têm espectáculos de animação cultural, como música, teatro e poesia, e todas estas valências acabaram por acrescentar muitos milhares de pessoas em relação às que já vinham ao certame.
F: E o consumo de enguia aumentou em 2015, segundo dados disponibilizados aquando da apresentação do certame.
H.E.: Passou de cerca de 4 toneladas para 5 toneladas e meia no ano passado, o que atesta esse crescimento de que falei.
F: Este ano há perspectiva de aumentar a quantidade de enguia consumida?
H.E.: Eu gostaria que esse valor pelo menos se consolidasse. Nós não temos o controlo sobre as condições climatéricas, e sabemos que as pessoas saem mais ou menos consoante os dias estão mais radiantes ou mais chuvosos. Se conseguirmos consolidar estes números já será uma conquista. E se pretendermos continuar a crescer teremos que aumentar o número de oferta ao nível dos restaurantes, o que terá sempre que ser acompanhado do crescimento da oferta ao nível cultural, de eventos, de expositores e de artesanato. Mas para já estamos bastante satisfeitos com os progressos alcançados nestas duas últimas edições.
F: Tem focado com particular insistência o papel dos média no crescimento do Mês da Enguia, evocando muitas vezes durante a apresentação do certame o trabalho da comunicação social na divulgação desta iniciativa.
H.E.: Estamos bastante agradados com a contínua expansão dessa cobertura, não apenas assegurada pelos meios de comunicação locais e regionais, mas também nacionais. Em três anos consecutivos vieram divulgar o certame, o que tem ajudado muito a sua consolidação.
F: O crescimento do Mês da Enguia poderá ser também uma alavanca para um possivel investimento privado na área da oferta de dormida no concelho?
H.E.: Eu espero que seja, embora o Mês da Enguia seja um evento episódico. Terão que haver outros produtos – e estamos a trabalhar nesses produtos – para que haja continuidade na procura dos eventos de Salvaterra de Magos. Teremos a Feira de Maio logo a seguir ao Mês da Enguia (Feira de Magos), onde promoveremos a componente agrícola, onde temos artesãos na rua, a cultura, divertimentos para as crianças. Ou seja, procuramos que a Feira de Magos seja um ponto alto da visitação ao nosso concelho. É apenas mais um dos muitos exemplos que poderia frisar de produtos no âmbito da oferta promocional de Salvaterra de Magos. Mesmo assim admito que não seja fácil estimular o investimento na área das dormidas, até porque somos um concelho mais de visitação do que propriamente de turismo. Já ficaremos bastante satisfeitos se a área metropolitana vier a Salvaterra passear, passar uma manhã, uma tarde, uma tarde/noite, e nós tenhamos oferta para que por cá almocem, jantem e façam compras no nosso comércio. As dormidas estão muito associadas ou ao turismo de praia ou ao turismo religioso, e nós não temos grandes capacidades nessas vertentes.
F: Fala-se da possivel existência de um projecto de construção de um hotel palafítico. Seria um investimento numa extrutura original que seguramente atrairía muitos visitantes a Salvaterra de Magos.
H.E.: Temos tido muitas dificuldades com a CCDR de Lisboa por causa da proximidade ao Rio no âmbito desse projecto. Vamos ver se conseguimos ter sucesso nesse e em outros projectos.
F: O Chef Luís Machado lançou hoje um desafio ao presidente Hélder Esménio, entendi eu dessa forma: o de transformar Salvaterra na capital da enguia.
H.E.: É uma ideia, um desafio. Nós registámos a marca em 2014, quando fomos eleitos, de Salvaterra – Capital Nacional da Falcoaria, e esse é o nosso ex-líbris. É o que nos torna diferentes de tudo aqui à nossa volta, pois é um produto que não existe nos restantes concelhos. O Rio é comum a outros territórios concelhios, os peixes, a fauna e a flora também o são. Já a falcoaria é um produto só nosso, exclusivo. Mas a ideia é interessante; nós já temos tantos anos de Mês da Enguia que se calhar faz algum sentido registar a marca “Salvaterra de Magos – Capital Nacional da Enguia”. É uma ideia que vamos analisar com os nossos técnicos de turismo. Já ganhámos esse estatuto mesmo sem termos registado a marca, e pode ser que o registo da marca contribua para que o produto se mantenha por muitos mais anos. É uma sugestão muito positiva.
F: Depreendi das suas palavras aquando da apresentação do certame que ainda há quem critique esta sua postura visionária, a de querer ver o concelho de Salvaterra com um estatuto superior no contexto da divulgação dos seus valores. Ainda há quem insista em olhar demasiado para baixo e para o seu próprio umbigo?
H.E.: É uma coisa que de facto me aborrece, confesso. Aborrece-me sobretudo que a esquerda, que tem outra visão da cultura, da sua promoção e do intercâmbio, se sirva de um certo populismo típico das posturas da direita para criticar as iniciativas culturais, a promoção do concelho, a divulgação das nossas gentes, dos nossos músicos, dos nossos valores, com o argumento claramente de direita de que essa promoção nada mais é do que um custo, um gasto de dinheiro. Sobretudo quando essa mesma esquerda, em outros concelhos à nossa volta, são os principais paladínos da promoção cultural, das associações, do intercâmbio, dos teatros, da música. Ou seja: temos uma esquerda que em outros concelhos aqui à volta faz e promove o que estamos a fazer e a promover aqui no concelho de Salvaterra de Magos, mas temos actores locais dessa mesma esquerda que, travestidos de uma visão de direita, acusam a nossa gestão de estarmos a gastar dinheiro público num conjunto de eventos e de iniciativas que, como tem ficado demonstrado ao longo destes anos, vão ajudando e de que maneira a economia local. Por essa razão é que temos restaurantes connosco, temos as IPSS connosco; aliás, se analisarmos o programa do Mês da Enguia veremos um empenho das associações como nunca antes vimos no nosso concelho no âmbito deste evento, que já vai na sua vigésima edição. As pessoas estão connosco. É pena que esses agentes da política à esquerda do Partido Socialista não tenham essa visão e prefiram fazer uso de atoardas que normalmente caracterizam os discursos de direita radical.
F: Terá a ver com uma questão de esquerda, ou será mais uma manifestação encapotada de alguma frustração ainda relacionada com a inversão ditada pelas autárquicas de 2013?
H.E.: Eu penso que será mais isso, evidentemente. Mas repare: a inteligência de um autarca não se manifesta apenas na maldicência. Há que aproveitar a boleia quando as coisas correm bem…
F: Nesse contexto, não vimos qualquer vereador da oposição no dia da apresentação do Mês da Enguia. Não foram convidados?
H.E.: São convidados para estar neste como em todos os eventos da Câmara, mas como pode ver não está cá ninguém. Como disse, seria uma questão de inteligência acompanharem, estarem presentes quando as coisas correm bem, até porque amanhã poderão ser poder e dessa forma dar continuidade a esses projectos, um pouco à imagem do que o Partido Socialista fez com o Mês da Enguia, que melhorou, criando uma Feira de Artesanato que não existia. Pegámos na Feira de Maio e criámos a Feira de Magos, com introdução da componente agrícola. Ou seja, não precisámos de destruir o passado para fazer melhor.

FONTEEntrevista: Nuno Cláudio
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