Um século mais tarde: Pau das Caldas, pois claro!

Xicos Cuvilheiro está de volta, a pedido de muitas famílias, sobretudo e acima de tudo tendo em conta que não obstante fazer jornalismo pelas pessoas e para as pessoas e... ora, Podre Ribeiro é o novo Monarca absoluto do Reino de Quer-Taxo, trono ao qual chegou depois de ter arrasado com dúzia e meia de adversários político - quertaxeiros. Tanta correria para chegar ao Trono e agora... vai ter que suar para pagar uma quantidade incontável de europodres que o Reino deve. Mas o Monarca não baixa os braços e pretende transformar a imensa dívida numa vantagem para a sua governação. Xicos Cuvilheiro, escondido debaixo do tablet de Podre, viu, ouviu e registou todas as estratégias do Monarca, que reuniu em segredo com a restante corte oposicionista.

Xicos Cuvilheiro, o agente secreto que nunca dorme... menos de 16 horas por dia...

Podre Ribeiro – Pedi-vos para reunirmos aqui e agora pois tenho os números da dívida do Reino para vos apresentar de seguida…
Pau Feito à Varanda – De seguida? Eh pá, que pena, já combinei passar o Natal em família…
Basco em Cunha – E eu comprometi-me a passar a Páscoa com o Passo-me com o Coelho e o Pau das Tortas lá no Parlamento. Peço desculpa, mas não vou poder ficar para ouvir esses números da dí…
Podre Ribeiro – Peço-vos para ficarem, porque é importante que tomem conhecimento do valor da dívida do Reino, até para depois compreenderem porque é que eu não vou conseguir fazer nada nas próximas décadas… Além disso, tenho aqui os números muito resumidos.
Pau Feito à Varanda – Bem, se é assim muito resumido, então talvez consigamos ir passar os Reis a casa…
Basco em Cunha – Se estiver mesmo bem resumido… ainda arrisco a dizer à minha mulher que vou passar a passagem de ano com a família…
Podre Ribeiro – Bom, deixem-se lá de piadolas pouco fleumáticas. Estive reunido aqui com a doutora Leva-me ao Céu e…
Pau Feito à Varanda – E saiu da reunião cheio de entusiasmo, sua Majestade. Como o compreendo…
Basco em Cunha – Agora percebo de onde vem essa sua obcessão pelo volume da dívida, Pálida Majestade…
Podre Ribeiro – Confesso que estou à margem das vossas apreciações incompreensíveis… bom, vamos directos ao assunto: o valor da dívida do Reino de Quertaxo é de 63 milhões de europodres. Mais podre menos podre.
Pau Feito à Varanda – Eh lá, espere aí, Majestade, mas quando eu sai do Trono a coisa não ultrapassava os 50 milhões de europodres, e isso foi apenas há dois meses, nem tanto!
Basco em Cunha – Até eu estou tentado a achar que o Pau Feito tem razão. Onde foi Sua Pálida e Fleumática Majestade desencantar tanto dinheiro que se está a dever?
Pau Feito à Varanda – Com um volume desse de dívida ainda vão dizer que o Rei que vier em 2050 há-de estar a pagar pelo que fez o Pau Feito à Varanda…
Basco em Cunha – Pior de tudo é que provavelmente esse Rei ainda nem nasceu sequer, coitado.
Podre Ribeiro – Foi bem lembrado. Dra. Leva-me ao Céu, acrescente aí nas contas o valor da dívida para com a maternidade pelo nascimento do Rei.
Dra. Leva-me ao Céu – Com toda a certeza. Em que ano irá nascer o futuro Monarca, para cabimentar na dívida?
Podre Ribeiro – Não faço ideia, mas meta naquela rubrica onde colocou as despesas de representação do trisneto do Marco Chatas no Tour ao Reino da França em Bicicleta do ano de 2156.
Pau Feito à Varanda – Espere aí, Majestade Absoluta, mas como pode prever que o Chatas vai ter um trisneto em 2156 a participar no Tour? E como é que se atreve a contabilizar já essas despesas como dívida actual?? 2156… não faz sentido!
Podre Ribeiro – O Pau Feito tem razão, não faz sentido contabilizar as possíveis despesas de 2156. Dra. Leva-me ao Céu, contabilize apenas todas as possíveis despesas do reino mas somente até 2155.
Dra. Leva-me ao Céu – Foi o que já fiz, Majestade, tal como mandou, para chegarmos àquele valor astronómico.
Podre Ribeiro – E fez muito bem, doutora. Aprecio bastante o volume do seu trabalho.
Pau Feito à Varanda – O que eu não percebo é essa estratégia de empolar o valor da dívida, quando é Sua Majestade quem vai ter que pagar tudo…
Basco em Cunha – É claro que não percebes, pois se tivesses percebido alguma coisa do que te rodeava ainda eras tu o Monarca. Então não vês que Sua Pálida Majestade quer aparecer daqui por um ou dois anos a dizer que foi ele quem pagou metade da dívida? Vendo bem a coisa, não lhe resta mesmo mais nada para dizer que fez. Nem para fazer, quanto mais para dizer que fez…
Pau Feito à Varanda – Ao menos aqui o Pau Feito à Varanda vai ficar associado à obra… mas do Podre, que vai pagar a dívida, nem a história há-de rezar…
Podre Ribeiro – Mas o que estão vocês aí a dizer? Doutora Leva-me ao Céu, mande já chamar o Professor Pard-All, o grande inventor do Reino. Ele que traga a sua famosa Máquina do Tempo! Vou levar estas aves de mau agoiro num instante ao próximo Século, para que eles vejam com os seus próprios olhos a consideração e estima que os Quer-Taxeiros terão por Sua Alteza o Monarca Podre Ribeiro.
Pau Feito à Varanda – Ou seja, ele próprio.
Podre Ribeiro – Ou seja, eu mesmo.
Dra. Leva-me ao Céu – Já aqui está o professor Pard-All, Eminência Suprema e Pálida.
Podre Ribeiro – Faça então o favor de dar corda a essa coisa, professor, e garanta aí um lugar confortável para o Basco e para o Pau Feito, para que eles vejam com os seus próprios olhos como vou ser tão famoso no Reino de Quer-Taxo em 2113 como é o Diabólico Líder lá na Correria do Norte.

Iniciaram a vertiginosa viagem no tempo, que em poucos segundos os levou até 2113, um século mais à frente em relação ao momento presente, onde aterraram precisamente no centro da Rua Batalheiroz. Ainda zonzos da jornada, sairam da máquina do tempo e ficaram por momentos a contemplar os Quer-Taxeiros do século XXII. Um grupo de transeuntes, vendo aquele espalhafato dos escapes da máquina do professor Pard-All, aproximou-se…

Quer-Taxeiro doutorado em História – A julgar pela maneira esquisita que têm de se vestirem, vocês vieram dos primeiros anos do século XXI, aposto…
Podre Ribeiro – Muito bem, boa perspicácia. Permita-me que me apresente: sou Podre Ribeiro, Alteza Real do nosso Reino há cem anos, e…
Quer-Taxeiro doutorado em História – Mas há cem anos o Rei não era o Pau das Caldas?
Podre Ribeiro – Não. Quero dizer, era, mas esse foi o que deixou a dívida, e eu…
Quer-Taxeiro doutorado em História – Ora, não venha praqui dar lições de história antiga, que nós neste século somos muito esclarecidos. O Pau das Caldas fez obra!
Podre Ribeiro – Ora essa, mas quem vai ter que a pagar serei eu e…
Quer-Taxeiro doutorado em História – Então considere-se um privilegiado, porque não é para todos poder dizer que pagou a imensa obra do Pau das Caldas!
Basco em Cunha – Ui, já deu para ver que os nossos descendentes estão bem informados…
Quer-Taxeiro doutorado em História – E quem é este senhor aqui?
Basco em Cunha – Sou o Basco em Cunha, muito praz…
Quer-Taxeiro doutorado em História – Ah, aquele malandro que defendia o Passo-me com o Coelho quando ele roubou as reformas a três gerações dos meus trisavós? Seu bandido!
Pau Feito à Varanda – Já foste! Eh eh eh!
Quer-Taxeiro doutorado em História – E este senhor com cara de vampiro, quem é?
Basco em Cunha – Esse que riu a gozar comigo? É o Pau Feito à Varanda.
Quer-Taxeiro doutorado em História – Bom, deste aqui nem reza a história. Esperem ai, acho que li qualquer coisa dele… traiu o Pau das Caldas quando foi a eleição para o Reino em 2013, há cem anos, dizendo que não tinha nada a ver com o passado que ele próprio ajudou a construir.
Basco em Cunha – Ui ui, estes descendentes não brincam mesmo em serviço…
Podre Ribeiro – Então e de mim não sabe nada? Certamente que terá lido sobre o explendoroso Reino que eu deixei, próspero e…
Quer-Taxeiro doutorado em História – Quem és tu, o Pau das Caldas?
Podre Ribeiro – Não, sou o Podre Ribeiro, já lhe disse…
Quer-Taxeiro doutorado em História – Nós no século XXII veneramos é o Pau das Caldas! Foi ele quem fez a obra que está à vista! Praça Central, Nó da Auto-Estrada, Estádio Municipal, Variantes de Acesso, Centro Cultural. Foi isso que aprendemos, e é isso que transmitimos de geração em geração!
Podre Ribeiro – Mas… mas e eu, que terei de pagar tudo??
Quer-Taxeiro doutorado em História – És um privilegiado! Quem me dera ficar assim associado à história deste Reino que Pau das Caldas erigiu! Permita-me, majestade: nunca tinha ouvido falar de si, mas se foi você quem pagou a obra do Grande e Sublime Pau das Caldas, então só posso crer que você tem, digamos, um bocadinho do talento desse grande Pau! Presto-lhe a minha vénia!
Pau feito à Varanda – Já foste! Eh eh!
Basco em Cunha – Vamos mas é voltar já para 2013, Alteza Real e Pálida, que pelo menos no nosso tempo os Quer-Taxeiros ainda não chegaram ao ponto de venerar o Pau das Caldas desta forma…
Podre Ribeiro – Também acho. Que gente ingrata. E pensar que ainda nem nasceram…

VIAXicos Cuvilheiro
COMPARTILHAR