“Tirando Azambuja, não há nenhuma freguesia que tenha em falta o número de trabalhadores previstos no acordo de execução”

Eis a tão aguardada entrevista exclusiva com Inês Louro, presidente da Freguesia de Azambuja. Num momento particularmente delicado no tocante às relações entre Junta e Câmara de Azambuja, Inês revela de onde poderão vir as desavenças: “Honestamente, eu acho que têm olhado para mim desde o início com esse espírito. Do género: ela fala, fala, reivindica, mas no fim fica tudo na mesma”. Pelos vistos, enganaram-se redondamente, porque Inês Louro... não pára de reivindicar para Azambuja. E acima de tudo... não se cala!

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Como é que as relações entre Inês Louro e Luís de Sousa chegaram ao ponto em que estão e são do conhecimento público?
As relações institucionais entre Junta de Freguesia e Câmara de Azambuja mantêm-se, pelo menos da nossa parte é assim que pensamos e procedemos. Essa relação só foi quebrada na última assembleia municipal devido à atitude do senhor presidente, ao recusar responder a uma deputada municipal que por acaso também representa o orgão Junta de Freguesia de Azambuja, ao qual preside.
De que forma essa relação institucional foi quebrada? O que aconteceu para que tal sucedesse?
O senhor presidente recusou responder às questões por mim levantadas, alegando tratar-se de uma perda de tempo. Nesse momento é que se deu, como lhe hei-de chamar…
Falta de solidariedade política?
Nesse particular eu é que sou acusada de falta de solidariedade política, e sei que essa acusação vem da parte dos meus camaradas, no seguimento de eu tornar públicas algumas questões que no ver de muitos deveriam ser discutidas internamente e no seio do partido.

"O conjunto de críticas que fiz sobre a minha freguesia demonstra o descontentamento que os fregueses nos fazem chegar e que os políticos da minha feguesia me transmitem que ouvem dos fregueses em relação ao trabalho camarário"
“O conjunto de críticas que fiz sobre a minha freguesia demonstra o descontentamento que os fregueses nos fazem chegar e que os políticos da minha feguesia me transmitem que ouvem dos fregueses em relação ao trabalho camarário”

De que género de assuntos e questões estamos a falar?
Estamos a falar de variadíssimas coisas. A situação mais grave decorreu com a Feira de Maio. Nós andamos desde há um ano a dizer que não limpávamos as ruas após a feira, e não tem a ver directamente com a tal verba de que se fala. Tem a ver com um conjunto de questões; há um acordo de execução assinado com a câmara municipal, de resto como sucede com as restantes freguesias do concelho. Mas não há nenhuma freguesia no concelho, à excepção de Azambuja, que tenha em falta o número de trabalhadores previstos nesse mesmo acordo de execução. Todos os trabalhadores previstos nos acordos foram transferidos para as restantes freguesias, à excepção de Azambuja.
O que prevê o acordo estabelecido entre a Junta de Freguesia de Azambuja e a câmara, no tocante ao número de trabalhadores?
Estão previstos três trabalhadores, e nós desde o inicio e até ao presente só temos um trabalhador.
É daí que vem a reclamação do montante de 38 mil euros?
Exacto. A dada altura eu ainda cheguei a propôr ao vereador responsável pelas questões inerentes às freguesias que nos transferisse quatro trabalhadores, de forma a compensar o que tinha acontecido para trás. Esta era uma hipótese. Mas deixa de ser viável, pois já falta pouco tempo para o final do mandato, e esse pouco tempo já não vai permitir compensar os quase três anos que estivemos com um trabalhador, quando o acordo prevê três. Aqui aplica-se o princípio: se a câmara não pode pagar em espécie, tem que indemnizar.
Como é que se chegou a esse valor de 38 mil euros?
A nossa contabilidade apurou esse valor tendo por base o ordenado mínimo, porque o acordo não é específico no tocante a outras categorias profissionais desses trabalhadores em falta; no final de Maio deste ano a verba ascendia a 38 mil euros. E a cada mês que passa vencem-se mais cerca de 1.200 euros.
A Junta de Azambuja tem reivindicado esta verba perante a câmara?Reivindicamos com oficios, devidamente registados ou entregues com prova de depósito, o que aconteceu a 1 de Junho, no qual reivindicava toda a verba em atraso até Maio. Mas não obtive qualquer resposta até ao momento. Sei que foi pedido um parecer jurídico por parte da câmara, no sentido de aquilatar o fundamento desta reivindicação. Mas eu sei do pedido desse parecer de forma informal, porque na prática, e pela via oficial, não sei de nada.
Não seria lógico que a câmara informasse a junta desse procedimento? Ou seja, de que iria solicitar um parecer jurídico em relação ao pedido dos 38 mil euros?Mas essa tem sido a forma de relacionamento entre Câmara e Junta de Azambuja. Desde que celebrámos o acordo de execução que batalhamos imenso pela cedência do Mercado Municipal. Desde logo porque gostaríamos de aproveitar o primeiro andar do mercado, uma vez que temos pouco espaço em termos de junta de freguesia, e ali poderíamos desenvolver alguns dos projectos que coloquei no meu manifesto de campanha. A verdade é que falta um ano para o fim deste mandato, e começo a pensar que não vou conseguir cumprir algumas das promessas que fiz aos meus fregueses, por não ter condições para as concretizar…
Mas há sempre a possibilidade de um segundo mandato, uma segunda oportunidade para continuar a desenvolver projectos.
Honestamente, eu não quero voltar a recandidatar-me à Junta de Freguesia de Azambuja, porque acho que ninguém é dono dos lugares. Estive lá quatro anos como presidente de assembleia de freguesia, e agora vou a caminho de completar quatro anos como presidente de junta de freguesia.
É uma decisão já tomada em definitivo?
Candidata à junta de freguesia está completamente fora de questão.
À junta de freguesia. Então a Inês está disponível para ser candidata a outro orgão autárquico?
Eu não faço nada que seja incompatível com a advogacia, pelo menos nesta idade. Tenho vinte anos de profissão, gosto daquilo que faço e não vou colocar em causa uma carreira de duas décadas. Para mim está completamente fora de questão, por agora.
Porque é que apenas em Azambuja o acordo de execução entre junta e câmara não está a ser cumprido no que aos funcionários a destacar diz respeito? Porquê essa discriminação?
Essa era a resposta que eu gostava de ter por parte da Câmara de Azambuja. Eu pedi três funcionários desde início, e justifiquei o porquê de pedir três funcionários. Vim encontrar uma junta com um funcionário que tinha acabado de se reformar, e uma funcionária que tinha metido os papeis para a reforma. Teimei e reivindiquei em muitos aspectos aquando da elaboração dos acordos de execução, não cheguei lá e aceitei o que me era imposto. Ou seja, reivindiquei vantagens e mais-valias para Azambuja.

Honestamente, eu acho que têm olhado para mim desde o início com esse espírito. Do género: “ela fala, fala, reivindica, mas no fim fica tudo na mesma”. Essa é a sensação que tenho, a um ano de terminar o mandato.
“Honestamente, eu acho que têm olhado para mim desde o início com esse espírito. Do género: ela fala, fala, reivindica, mas no fim fica tudo na mesma. Essa é a sensação que tenho, a um ano de terminar o mandato”

Será que a Câmara de Azambuja cedeu às reivindicações e aceitou os termos do acordo convencida que depois não o iria cumprir? Digamos que o terá feito para calar a presidente da Freguesia de Azambuja?
Honestamente, eu acho que têm olhado para mim desde o início com esse espírito. Do género: “ela fala, fala, reivindica, mas no fim fica tudo na mesma”. Essa é a sensação que tenho, a um ano de terminar o mandato.
Os restantes presidentes de junta e os outros eleitos socialistas na bancada do PS na assembleia municipal têm demonstrado alguma azia para com a postura de Inês Louro na defesa dos interesses da Freguesia de Azambuja?
Os meus colegas da assembleia municipal também não sabem nem conhecem todos os problemas que eu tenho tido na Freguesia de Azambuja. Alguns estão descontentes por termos discutido estes assuntos na reunião da assembleia em Aveiras de Cima, mas também desconhecem que o senhor presidente da câmara discutiu em público e nas últimas reuniões do executivo camarário assuntos decorrentes da relação entre a Junta de Azambuja e a Câmara de Azambuja. Se os meus colegas soubessem que não fui eu que trouxe esta discussão para o público, certamente que teriam outra ideia em relação ao assunto. Ainda na mais recente reunião de câmara o senhor presidente voltou a fazer o mesmo, como é público.
O presidente diz que Inês Louro está a pedir um valor excessivo, quando fala em 38 mil euros.
Até nisso está enganado, pois pensa que o acordo prevê dois funcionários, quando na verdade prevê três.
Então nem o próprio acordo que assinou Luís de Sousa conhece.
Provavelmente não está recordado, não sei… Foi o vereador Herculano Valada que alertou o presidente para o facto de eu ter razão, referindo que o acordo prevê três funcionários, portanto estando dois em falta.

"Foi o vereador Herculano Valada que alertou o presidente para o facto de eu ter razão, referindo que o acordo prevê três funcionários, portanto estando dois em falta"
“Foi o vereador Herculano Valada que alertou o presidente para o facto de eu ter razão, referindo que o acordo prevê três funcionários, portanto estando dois em falta”

Tudo o que está a acontecer entre Câmara e Junta de Azambuja pode prejudicar o Partido Socialista nas próximas eleições autárquicas?
Eu espero bem que não, bem pelo contrário. Eu espero que melhore o Partido Socialista, que prepare melhor o partido para defender os interesses das populações. Acima da minha militancia estão os interesses dos fregueses e dos munícipes, e esse princípio eu sempre deixei bem claro. Temos dentro do partido pessoas com grande capacidade e espero que este episódio conduza a uma reflexão séria sobre o nosso futuro.
Que avaliação Inês Louro faz do trabalho que foi realizado pela equipa liderada por Luís de Sousa que governa a autarquia desde 2013?
O conjunto de críticas que fiz sobre a minha freguesia demonstra o descontentamento que os fregueses nos fazem chegar e que os políticos da minha freguesia me transmitem que ouvem dos fregueses em relação ao trabalho camarário. Foi isso que transmiti. Nós somos o orgão mais próximo da população, e a verdade é que as pessoas de Azambuja não podem estar contentes com a política seguida. Possivelmente neste momento existe um espírito de procurar compensar o facto de considerarem que Azambuja foi beneficiada ao longo de anos por ter um presidente de câmara originário da terra. Mas isso não é correcto, não é justo para connosco, que somos uma equipa jovem e muito empenhada, estamos a ver o nosso tempo a acabar e olhamos uns para os outros com o sentimento de não consegurimos cumprir com o que prometemos.

VIAEntrevista: Nuno Cláudio
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